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Revista Portuguesa de Pneumologia

versão impressa ISSN 0873-2159

Rev Port Pneumol v.15 n.5 Lisboa out. 2009

 

Prevalência de obstrução numa população exposta ao fumo do tabaco – Projecto PNEUMOBIL

 

JM Reis Ferreira 1

Maria João Matos 2

Fátima Rodrigues 3

Aurora Belo 4

Hermínia Brites 5

João Cardoso 6

Paula Simão 7

J Moutinho dos Santos 8

João Almeida 9

António Gouveia 10

Cristina Bárbara 11

 

Resumo

A espirometria não atingiu ainda a divulgação que se justificaria em patologia respiratória, ou indivíduos que se encontram em risco relativamente a esta patologia, cujo diagnóstico é insuficiente, havendo um escasso conhecimento, e consequente controlo, dos custos atribuíveis a estas doenças, com destaque para a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).

O PNEUMOBIL, iniciativa que visa esta divulgação entre fumadores e ex-fumadores, foi reactivado, após 10 anos de aplicação em Portugal, revelando agora, numa amostra de 5324 indivíduos, em que cerca de 50% ainda mantêm os hábitos tabágicos, sejam do sexo masculino ou feminino, que houve uma elevada prevalência de obstrução detectada por espirometria (30% e 25%, respectivamente) nas pessoas rastreadas perto de centros de saúde (grupo público) e em empresas (grupo privado).

Este risco não se explica em regra por exposição ocupacional, nem se relaciona com a maioria dos sintomas respiratórios, muito frequentes nos rastreados.

Apenas a dispneia (OR=1,28; p=0,02) e os episódios frequentes de expectoração (OR=1,21; p=0,008) ou de bronquite aguda (OR=1,31; p=0,05) revelam alguma relação com a obstrução.

O reconhecimento prévio da DPOC é muito reduzido e a presença de obstrução não se correlaciona (p=0,204) com o assumir da condição de portador.

Palavras-chave: Fumo do tabaco, obstrução brônquica, DPOC, PNEUMOBIL.

 

Prevalence of bronchial obstruction in a tobacco smoke exposed population – The PNEUMOBIL project

Abstract

The use of spirometry is not yet widespread enough in chronic respiratory or at-risk patients whose diagnosis is incomplete. There is scarce knowledge and inadequate management of the burden of these diseases, particularly chronic obstructive pulmonary disease (COPD).

Pneumobil, an initiative aimed at raising awareness among smokers and ex-smokers, was reactivated 10 years after its launch in Portugal. It found a large prevalence of bronchial obstruction as measured by spirometry (30% and 25% in men and women respectively) in a sample of 5324 smoke-exposed individuals, 50% current smokers, screened at state or business (private company group) health institutions. This risk is neither mainly attributable to occupational exposure nor mainly related to respiratory symptoms, which were very common in our population. Only dyspnoea (OR=1.28; p=0.02) and frequent episodes of sputum production (OR=1.21; p=0.008) or acute bronchitis (OR=1.31; p=0.05) were somewhat related to bronchial obstruction.

Prior knowledge of COPD is rare and bronchial obstruction is not correlated (p=0.204) to a possible diagnosis of COPD.

Key-words: Tobacco smoke, bronchial obstruction, COPD, PNEUMOBIL.

 

Acrónimos e abreviaturas

ATS – Sociedade Torácica Americana/American Thoracic Society

CI – Intervalo de confiança/Confidence Interval

CVF – Capacidade vital forçada/FVC – Forced vital capacity

DP – Desvio padrão/Standard deviation

DPOC – Doença pulmonar obstrutiva crónica/Chronic obstructive pulmonary disease

ERS – Sociedade Respiratória Europeia/European Respiratory Society

GOLD – Global Initiative for Obstructive Lung Disease Initiative (World Health Organization)

Hosp. – Hospital

IMC – Índice de massa corporal/ BMI – Body mass index

MRC - DLD – Medical Research Council – Division of Lung Diseases

OR – Taxa de probabilidade / Odds ratio

SPP – Sociedade Portuguesa de Pneumologia / Portuguese Society of Pneumology

Sta. – Santa / Saint

UMA – Unidades maço ano / Pack-years units

VEMS – Volume expiratório máximo no primeiro segundo / FEV1 – Forced expiratory volume (1st second)

VEMS/CVF – Índice de Tiffeneau / Ratio FEV1/FVC%

 

Introdução

Dizíamos num artigo da Revista Portuguesa de Pneumologia, em 19951, introduzindo então o projecto PNEUMOBIL, que dava os seus primeiros passos, que o rastreio da função respiratória era ainda um parente pobre do diagnóstico médico, o que contrastava com os altos custos que as doenças respiratórias seguramente traduziriam e que, em Portugal, ainda não estavam sequer calculados.

Divulgados que foram os resultados desse rastreio2,3, o primeiro em larga escala, no nosso país, e conhecidos que foram os dados do estudo epidemiológico da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, em 20024, ainda hoje a espirometria não atingiu a divulgação merecida. Ainda se verifica também um insuficiente diagnóstico, bem como um escasso conhecimento, e consequente controlo, dos custos atribuíveis às doenças respiratórias crónicas, com destaque para a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC)5.

Foi com base nesta insatisfação, mas também pela implementação do Projecto GOLD6 (Global Initiative for Obstructive Lung Disease) em Portugal, que se voltou a organizar uma acção de divulgação da DPOC do tipo daquela que ocorrera por todo o país há mais de dez anos.

Designada por PNEUMOBIL -2, esta acção de sensibilização para o diagnóstico da DPOC e, em especial, para o valor da espirometria no seu diagnóstico precoce, teve o patrocínio científico da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, da Iniciativa GOLD e da Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa, e o suporte logístico dos laboratórios Boehringer Ingelheim e Pfizer, contando com uma viatura adaptada à realização destes testes equipada com três espirómetros Easy-One (NDD Medizintechnik –Suíça).

 

Locais e critérios do estudo

O estudo PNEUMOBIL decorreu entre Maio de 2007 e Maio de 2008. Teve por objectivo avaliar, na população residente no continente, a exposição profissional a poluentes, a presença de sintomas respiratórios e diversos parâmetros funcionais respiratórios determinados por espirometria. Este estudo incidiu exclusivamente sobre indivíduos fumadores e ex-fumadores, com idade igual ou superior a 40 anos.

O objectivo da análise dos dados foi determinar a prevalência de patologia respiratória entre indivíduos expostos ao fumo do cigarro e factores de risco para DPOC. Consideraram-se obstrutivos os indivíduos com um índice de Tiffeneau (VEMS/CVF) inferior a 70%. A espirometria foi realizada por técnicos de cardiopneumologia, segundo protocolo da ATS de 20057, sem prova de broncodilatação, tendo sido utilizados os valores de referência da ERS8.

Durante o período do estudo foram realizadas espirometrias em 6503 indivíduos e administrado o questionário de patologia respiratória, adaptado do questionário da American Thora cic Society (MRC-DLD) em 6361. Um total de 585 indivíduos não referiu hábitos tabágicos actuais ou passados, pelo que foram considerados não elegíveis e excluídos da análise.

Devido a erros na identificação dos indivíduos, de que resultou duplicação dos números de registo e consequente impossibilidade de determinar a correspondência entre o questionário e a espirometria, tiveram que ser excluídas 408 espirometrias e 302 questionários.

Apenas foram incluídos na análise os indivíduos que tinham simultaneamente respondido ao questionário e realizado espirometria, o que perfazia um total de 5324. Esta constituiu a população analisável.

Por questões logísticas, parte dos indivíduos foi entrevistada em empresas privadas (71) e outra parte junto de hospitais públicos e centros de saúde (61). A distribuição pelo local de recrutamento apresenta-se na Fig. 1.

 

 

O estudo abrangeu localidades distribuídas por todo o território nacional, apresentando-se na Fig. 2 a distribuição das observações que foi possível referenciar, por região, do continente.

 

 

Resultados demografia

No que respeita às características demográficas, em cada grupo e duma forma muito semelhante, as amostras eram constituídas quase exclusivamente por indivíduos de raça caucasiana, sendo cerca de 70% do género masculino (77,9% no grupo privado e 80,3% no grupo público), com uma média de idades de 50 anos e um índice de massa corporal (IMC) médio de cerca de 27 nos homens e de 25 nas mulheres (Quadro I).

 

 

Escolaridade

Entre os indivíduos do grupo privado e público, a escolaridade dominante foi o ensino secundário e pós, seguido do ensino básico (Fig. 3).

 

 

Hábitos tabágicos

Os comportamentos são semelhantes nos dois sexos, com cerca de 50% de fumadores actuais e 50% de ex-fumadores (Fig. 4). A idade média em que ocorreu o início da exposição tabágica foi aos 17 anos e a idade em que termina, nos ex-fumadores, verificou-se por volta dos 40 anos. No conjunto dos indivíduos, fumadores e ex-fumadores, analisando pelo método de Kaplan-Meier, a mediana da idade em que termina a exposição são os 48 anos nos homens e os 45 nas mulheres. Em média, o número de cigarros por dia consumidos pelos fumadores actuais é de 18, e durante o período de exposição foi em média de 22 cigarros por dia. O tempo médio de exposição, na totalidade da amostra, é de cerca de 28 anos e, em unidades maço ano (UMA), é de cerca de 35 (Quadro II).

 

 

 

Os quadros seguintes descrevem as características dos indivíduos expostos ao fumo do tabaco, em ambos os grupos. A maioria fuma cigarros, havendo apenas 25 fumadores de cachimbo e 29 fumadores de charuto, no grupo privado, e registando-se no grupo público 30 fumadores de cachimbo e 45 fumadores de charuto.

 

Exposição profissional

A distribuição dos indivíduos por actividade profissional mostrou evidente predominância de “serviços”, categoria que engloba todos os aparentemente não expostos a risco inalatório.

Cerca de 50% tiveram durante a sua vida algum grau de exposição a poeiras, fumos ou gases (Fig. 5).

 

 

A exposição a estas actividades profissionais (Quadro III) não se afasta muito (cerca de 20 a 30 anos), excepto a actividade estudantil, mais curta, na ordem da duração dos cursos técnicos.

 

 

De acordo com a informação obtida, considera-se de seguida a exposição profissional a poeiras entre os indivíduos do grupo privado e do grupo público (Quadro IV).

 

 

A exposição a partículas dispersa-se, não se constituindo grupos definidos, com a excepção do vidro, decorrente do rastreio efectuado numa grande empresa de fabrico deste material. No entanto, a duração da exposição é muito díspar, com grandes desvios-padrão em todos os subgrupos, o que é atribuível à pequena dimensão dos grupos (Quadro V).

 

 

A exposição a fumos é bastante mais frequente, sendo referida por cerca de 20% dos indivíduos do grupo privado e por cerca de 15% dos do grupo público (Quadro VI). Mas se há muito mais pessoas sujeitas a ácidos no grupo privado (sobretudo do género masculino), a exposição a cada agente nocivo, em cada grupo, é diversificada na sua duração, sendo mais longa em média no grupo público (Quadro VII).

 

 

 

Sintomas respiratórios

Quanto à prevalência de sintomas respiratórios, o questionário utilizado abordava a tosse com as seguintes questões:

• Tem habitualmente tosse?

• Tem normalmente tosse pela manhã, ao levantar-se ou ao vestir-se?

• Tem tosse durante o resto do dia ou à noite?

• Tem tosse a maior parte dos dias, durante três ou mais meses seguidos durante o ano?

Nos grupos privado e público as respostas positivas a estas questões resumem-se de acordo com o Quadro VIII.

 

 

Cerca de 29% no grupo público e 19% no privado têm tosse habitual, sem diferença entre sexos. A duração dos sintomas de tosse foi de 8,31 anos (DP 8,11) nos homens e 6,02 anos (DP 8,04) nas mulheres, no grupo privado. No grupo público, a duração dos sintomas de tosse foi de 10,21 anos (DP 11,07) nos homens e 10,76 anos (DP 11,63) nas mulheres.

 

As perguntas quanto à presença de expectoração no questionário eram, respectivamente:

• Expectora habitualmente?

• É hábito expectorar pela manhã, ao levantar-se ou ao vestir-se?

• É hábito expectorar durante o resto do dia ou à noite?

• É hábito expectorar a maior parte dos dias, durante três ou mais meses seguidos durante o ano?

As queixas de expectoração apresentam um padrão sobreponível ao da tosse (Quadro IX). A duração dos sintomas de expectoração foi de 9,02 anos (DP 8,69) nos homens e de 9,55 anos (DP 10,90) nas mulheres, no grupo privado. No grupo público, a duração dos sintomas de expectoração foi de 10,68 anos (DP 10,67) nos homens e de 11,93 anos (DP 11,61) nas mulheres.

 

 

Quanto ao sintoma “pieira”, as perguntas no questionário descriminavam as situações da sua ocorrência, respectivamente:

• Quando se constipa?

• Muitas vezes sem relação com constipações?

• Já teve alguma crise de pieira que tenha sido acompanhada por falta de ar?

• Já teve mais que duas destas crises?

• Já precisou de fazer tratamento médico para fazer passar estas crises?

As queixas de pieira também foram mais frequentes no grupo público, cerca de 40% aquando de constipações e 25% sem causa aparente ou conhecida (Quadro X). A idade de início dos sintomas de pieira foi de 20,02 anos (DP 19,91) nos homens e de 26,34 anos (DP 24,11) nas mulheres, no grupo privado. No grupo público, a idade de início dos sintomas de pieira foi de 32,28 anos (DP 22,62) nos homens e de 35,61 anos (DP 19,60) nas mulheres.

 

 

Abordava-se de forma diferente o sintoma “dispneia”, em que o questionário inquiria, designadamente:

• Nota que lhe custa respirar quando anda apressado por caminho plano ou por uma pequena ladeira?

• Em caminho plano tem de parar para respirar, embora ande ao seu próprio passo?

• Em caminho plano tem de parar para respirar, depois de andar 5 minutos?

• Nota que tem falta de ar ao vestir-se?

• Tem falta de ar em repouso?

A dispneia em marcha em plano inclinado foi a queixa mais frequente, com predomínio nas mulheres do grupo público (40%).

A dispneia em repouso é referida por cerca de 2% no grupo privado e por 6% no grupo público (Quadro XI).

 

 

Patologia respiratória

Tanto quanto era do conhecimento dos inquiridos, de acordo com as perguntas:

• Nos últimos três anos esteve constipado com expectoração durante uma semana, ou mais dias, por ano?

• Teve alguma vez ataques agudos de bronquite?

• Teve alguma vez pneumonia ou broncopneumonia em criança?

• Teve alguma vez tuberculose pulmonar?

• Teve alguma vez bronquite crónica?

• Enfisema

• DPOC

• Teve alguma vez asma?

• Toma habitualmente medicamentos para a falta de ar?

A prevalência de patologia respiratória no grupo privado e no grupo público é apresentada no Quadro XII.

 

 

Foi reconhecida patologia respiratória obstrutiva crónica em cerca de 4% no grupo Privado e cerca de 8% no grupo Público, no entanto, apenas 1 em cada 3 doentes faz medicação. Registou-se um ligeiro predomínio de bronquite crónica nos homens.

 

Acompanhamento médico

Vários aspectos do acompanhamento médico entre os indivíduos do grupo privado e do grupo público foram avaliados:

• Já tinha conhecimento de alguma alteração respiratória?

• Já alguma vez tinha realizado algum teste semelhante a este (espirometria)?

• Já se tem queixado ao seu médico assistente de alguma alteração respiratória?

• Já consultou um médico especialista por causa de alguma alteração respiratória?

• Tomou anteriormente medicamento para alguma alteração respiratória?

• Está a tomar medicamentos para alguma alteração respiratória?

Quinze a 20% dos indivíduos referiram ter conhecimento de patologia respiratória, mas apenas 7% a 13% consultaram um especialista, tendo realizado espirometria 15-19% da população estudada (Quadro XIII).

 

 

Quem assegura o acompanhamento médico nos inquiridos, em mais de 80%, é o médico de família (Fig. 6).

 

 

Prevalência da obstrução

De acordo com o critério GOLD para a definição de obstrução brônquica (índice de Tiffeneau<70%), detectou-se uma prevalência de 25% na totalidade dos indivíduos rastreados; contudo, 95% deste grupo desconhecia este facto (Fig. 7).

 

 

A prevalência de obstrução brônquica entre os indivíduos dos grupos privado e público era o dobro nos homens, comparativamente com a prevalência feminina (Fig. 8).

 

 

Nos indivíduos com obstrução brônquica, a grande maioria estaria enquadrada nos estádios 1 e 2 da classificação GOLD, como se pode ver na Fig. 9.

 

 

Factores de risco de obstrução entre expostos ao tabaco

Nesta secção apresentam-se os resultados da análise dos factores associados à presença de obstrução brônquica. A análise consistiu num modelo de regressão logística, em que a variável dependente era a presença de obstrução, sendo a análise ajustada pela idade, género, IMC e grupo (público ou privado).

A idade, sexo e IMC foram incluídas devido à grande associação destas variáveis com a obstrução brônquica (Quadro XIV) e porque muitas das variáveis analisadas se relacionam com estas. O grupo (público ou privado) foi incluído porque a amostra está estratificada deste modo.

 

 

No Quadro XV apresentam-se os resultados da análise, indicando-se os odds-ratios ajustados e respectivos intervalos de confiança.

 

Quadro XV - Análise de factores associados com obstrução brônquica

Variável
Odds-ratio ajustado
Intervalo de confiança de 95%
p
Idade de início
1,007
0,993
1,020
0,324
Duração da exposição
0,999
0,993
1,004
0,756
UMA
1,001
0,998
1,003
0,902
Cigarros/dia actual
1,005
0,996
1,013
0,314
Cigarros média
1,001
0,996
1,006
0,672
Indústria química
1,081
0,838
1,395
0,549
Metalurgia
0,958
0,776
1,183
0,690
Indústria têxtil
1,048
0,768
1,430
0,765
Agricultura
0,891
0,641
1,239
0,492
Comércio
0,913
0,717
1,164
0,464
Indústria mineira
0,626
0,242
1,621
0,335
Serviços
0,979
0,853
1,124
0,765
Estudante
0,683
0,530
0,880
0,003
Indústria alimentar
0,675
0,490
0,929
0,016
Construção civil
1,269
1,043
1,544
0,017
Minas
0,981
0,303
3,176
0,975
Pedreiras
1,615
0,912
2,862
0,100
Fundição
2,697
1,147
6,339
0,023
Louça
0,792
0,452
1,392
0,419
Algodão
0,565
0,298
1,074
0,081
Fibras
0,585
0,157
2,173
0,423
Amiantos
0,615
0,214
1,765
0,366
Cimento
1,396
0,840
2,318
0,197
Areia
3,236
0,747
14,025
0,117
Vidro
0,870
0,586
1,292
0,491
Cereais
0,842
0,182
3,900
0,826
Diluentes
1,085
0,826
1,425
0,558
Ácidos
0,996
0,748
1,327
0,979
Chumbo
0,682
0,418
1,111
0,125
Plásticos
1,002
0,979
1,025
0,884
Isocianatos
0,723
0,396
1,319
0,290
Escolaridade
0,972

 

Os resultados mostram que, a valores constantes da idade, sexo e IMC, o risco de obstrução brônquica é menor entre os estudantes (OR=0,68; p =0,003) e trabalhadores na indústria alimentar (OR=0,68; p=0,016) e maior entre os trabalhadores expostos a poeiras em fundições (OR=2,7; p=0,02) e trabalhadores da construção civil (OR=1,3; p=0,017). Não se encontrou evidência de associação com quaisquer outros factores.

No Quadro XVI apresentam-se os resultados da análise da associação de obstrução brônquica com o tempo de exposição a vários poluentes. Não se encontrou qualquer associação estatisticamente significativa.

 

 

Factores descriminantes de obstrução entre expostos ao tabaco

Nesta secção apresentam-se os resultados da análise dos factores associados com a presença de obstrução brônquica. A análise consistiu num modelo de regressão logística, em que a variável dependente era a presença de obstrução, sendo a análise ajustada pela idade, género, IMC e grupo (público ou privado).

Nesta análise (Quadro XVII), os únicos sintomas relacionáveis com a presença de obstrução brônquica entre expostos ao tabaco foram a dispneia em terreno plano (OR=1,28; p=0,02), a ocorrência de constipação com expectoração (OR=1,21; p=0,008) e a ocorrência de ataques de bronquite aguda (OR=1,31; p=0,05).

 

 

Diferenças nos parâmetros ventilatórios entre expostos ao tabaco com e sem obstrução

Nesta secção apresentam-se os resultados da análise das diferenças dos valores dos parâmetros ventilatórios entre indivíduos expostos ao tabaco com e sem obstrução brônquica. A análise consistiu num modelo de regressão múltipla, em que a variável dependente era o parâmetro ventilatório, a variável independente a presença de obstrução, sendo a análise ajustada pela idade, género, IMC e grupo (público ou privado).

Com excepção da CVF, todos os parâmetros ventilatórios diferiam entre obstrutivos e não obstrutivos, para valores constantes de idade, sexo e IMC (Quadro XVIII).

 

 

Factores associados ao índice de Tiffeneau

Nesta secção apresentam-se os resultados da análise dos factores associados ao índice de obstrução de Tiffeneau entre indivíduos expostos ao tabaco. A análise consistiu num modelo de regressão múltipla, em que a variável dependente era o índice de Tiffeneau, sendo a análise ajustada pela idade, género, IMC e grupo (público ou privado). No Quadro XIX apresenta-se a associação do índice de Tiffeneau com os factores de ajustamento.

 

 

No Quadro XX apresentam-se os resultados da análise da associação entre o índice de Tiffeneau e possíveis factores de risco de obstrução brônquica, entre expostos ao tabaco.

 

Quadro XX - Análise de factores associados com obstrução brônquica

Variável
Diferença ajustada
Intervalo de confiança de 95%
p
Idade de início
0,800
Duração da exposição
0,562
UMA
0,636
Cigarros/dia actual
0,680
Cigarros média
0,517
Indústria química
0,682
Metalurgia
0,384
Indústria têxtil
0,759
Agricultura
0,840
Comércio
0,258
Indústria mineira
0,110
Serviços
0,612
Estudante
0,0089
0,0008
0,0170
0,030
Indústria alimentar
0,0112
0,0009
0,0215
0,032
Construção civil
0,255
Minas
0,641
Pedreiras
-0,0238
-0,0467
-0,0009
0,042
Fundição
0,155
Louça
0,343
Algodão
0,140
Fibras
0,647
Amiantos
0,908
Cimento
0,871
Areia
0,247
Vidro
0,879
Cereais
0,848
Diluentes
0,693
Ácidos
0,824
Chumbo
0,171
Plásticos
0,805
Isocianatos
0,562
Escolaridade
0,892

 

As profissões estudante e trabalhador da indústria alimentar associam-se a um índice de Tiffeneau mais elevado, e a exposição a poeiras em pedreiras a um índice mais baixo, a valores constantes da idade, género e IMC.

No Quadro XXI apresentam-se os resultados da análise da associação entre o índice de Tiffeneau e a sintomatologia respiratória, entre expostos ao tabaco O índice de Tiffeneau apresenta valores médios mais baixos nos indivíduos com dispneia em terreno plano, que têm que parar para respirar ao andar em terreno plano e com dispneia ao vestir, e ainda nos que têm expectoração quando se constipam e história de episódios agudos de bronquite.

 

Quadro XXI - Análise de factores associados com obstrução brônquica

Variável
Diferença
Intervalo de confiança de 95%
p
Tosse
-0,0015
-0,0073
0,0043
0,610
De manhã
0,0032
-0,0032
0,0096
0,332
Durante o dia
-0,0016
-0,0092
0,0060
0,688
Mais que 3 meses
0,0037
-0,0045
0,0120
0,374
 
Expectoração
-0,0012
-0,0068
0,0043
0,667
De manhã
-0,0023
-0,0082
0,0036
0,440
Durante o dia
0,0002
-0,0079
0,0082
0,970
Mais que 3 meses
-0,0029
-0,0109
0,0050
0,471
 
Quando se constipa
0,0003
-0,0049
0,0056
0,902
Sem relação
-0,0053
-0,0116
0,0009
0,095
Pieira
-0,0018
-0,0110
0,0074
0,702
Pieira duas
0,0018
-0,0087
0,0123
0,740
Tratamento
0,0004
-0,0107
0,0114
0,948
Idade início
0,0001
-0,0003
0,0004
0,677
 
Ladeira
-0,0026
-0,0080
0,0027
0,335
Plano
-0,0113
-0,0195
-0,0031
0,007
Parar
-0,0107
-0,0210
-0,0005
0,041
Vestir
-0,0162
-0,0297
-0,0027
0,018
Repouso
-0,0036
-0,0156
0,0084
0,554
 
Constipado
-0,0068
-0,0119
-0,0016
0,010
Bronquite
-0,0118
-0,0220
-0,0017
0,024
Pneumonia
-0,0033
-0,0113
0,0048
0,428
Tubercolose
-0,0058
-0,0245
0,0129
0,544
Bronquite crónica
0,0031
-0,0076
0,0137
0,573
Enfisema
0,0086
-0,0132
0,0305
0,438
DPOC
-0,0329
-0,0686
0,0027
0,070
Asma
0,0032
-0,0082
0,0147
0,579
Medicamentos
0,0009
-0,0120
0,0138
0,887

 

Factores associados com a CVF

Nesta secção apresentam-se os resultados da análise dos factores associados com a CVF entre indivíduos expostos ao tabaco. A análise consistiu num modelo de regressão múltipla, em que a variável dependente era a CVF, sendo a análise ajustada pela idade, género, IMC e grupo (público ou privado).

No Quadro XXII apresenta-se a associação da CVF com os factores de ajustamento.

 

 

No Quadro XXIII apresentam-se os resultados da análise da associação entre a CVF e possíveis factores de risco de obstrução brônquica, entre expostos ao tabaco A CVF é mais baixa em indivíduos fumadores trabalhadores na indústria mineira e em expostos a poeiras na indústria da louça e do cimento; o seu valor é mais elevado nos expostos a poeiras de amianto e no fabrico do vidro.

 

Quadro XXIII - Análise de factores associados com obstrução brônquica

Variável
Diferença
Intervalo de confiança de 95%
p
Idade de início
0,673
Duração da exposição
0,730
UMA
0,069
Cigarros/dia actual
0,552
Cigarros média
0,296
 
Indústria química
0,705
Metalurgia
0,113
Indústria têxtil
0,416
Agricultura
0,598
Comércio
0,233
Indústria mineira
-0,3260
-0,561
-0,0913
0,006
Serviços
0,092
Estudante
0,947
Indústria alimentar
0,555
Construção civil
0,888
 
Minas
0,218
Pedreiras
0,094
Fundição
0,575
Louça
-0,1983
-03478
-0,0489
0,009
Algodão
0,525
Fibras
0,398
Amiantos
0,2992
0,0338
0,5645
0,027
Cimento
-0,1810
-0,3127
-0,0493
0,007
Areia
0,800
Vidro
0,1344
0,0342
0,2346
0,009
Cereais
0,973
 
Diluentes
0,984
Ácidos
0,193
Chumbo
0,137
Plásticos
0,134
Isocianatos
0,900
 
Escolaridade
0,035

 

No Quadro XXIV apresentam-se os resultados da análise da associação entre a CVF e a sintomatologia respiratória, entre expostos ao tabaco.

 

Quadro XXVI - Análise de factores associados com obstrução brônquica

Variável
Diferença
Intervalo de confiança de 95%
p
Tosse
-0,0154
-0,0583
0,0275
0,482
De manhã
-0,0103
-0,0574
0,0367
0,668
Durante o dia
-0,0359
-0,0919
0,0200
0,208
Mais que 3 meses
0,0115
-0,0493
0,0723
0,711
 
Expectoração
0,0156
-0,0255
0,0568
0,456
De manhã
-0,0030
-0,0464
0,0404
0,893
Durante o dia
0,0139
-0,0452
0,0730
0,645
Mais que 3 meses
-0,0083
-0,0668
0,0502
0,781
 
Quando constipa
-0,0105
-0,0495
0,0285
0,598
Sem relação
-0,0366
-0,0827
0,0096
0,120
Pieira
-0,0226
-0,0903
0,0451
0,512
Pieira duas
-0,0188
-0,0967
0,0592
0,637
Tratamento
-0,0238
-0,1055
0,0579
0,568
Idade início
0,0001
-0,0025
0,0026
0,960
 
Ladeira
0,0178
-0,0227
0,0569
0,400
Plano
-0,0201
-0,0810
0,0407
0,517
Parar
-0,0512
-0,1275
0,0250
0,188
Vestir
-0,0783
-0,1783
0,0217
0,125
Repouso
-0,0525
-0,1418
0,0367
0,248
 
Constipado
0,0034
-0,0346
0,0178
0,855
Bronquite
-0,0254
-0,1015
0,0506
0,512
Pneumonia
0,0020
-0,0581
0,0621
0,948
Tubercolose
0,1580
0,0189
0,2971
0,026
Bronquite crónica
-0,0260
-0,1054
0,0534
0,521
Enfisema
-0,0141
-0,1768
0,1487
0,866
DPOC
0,1719
-0,0935
0,4373
0,204
Asma
-0,0020
-0,0871
0,0832
0,964
Medicamentos
-0,0065
-0,1025
0,0894
0,894

 

Apenas se mostrou associação da CVF com história prévia de tuberculose.

 

Discussão

O PNEUMOBIL, cujo objectivo é a divulgação da DPOC, tem o patrocínio científico da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) e da Iniciativa Global para a DPOC. Privilegia com a sua permanência a proximidade de hospitais e centros de saúde e o rastreio em empresas ou outros locais de trabalho; se o estudo decorresse apenas junto dos hospitais e centros de saúde, poderiam revelar-se muito mais alterações respiratórias do que as realmente presentes na comunidade activa, o que assim falsearia o real impacto da doença. Este foi o motivo pela qual se estendeu o estudo às empresas e a outros locais de trabalho.

Afirma-se actualmente na literatura que a DPOC é uma entidade subdiagnosticada, e também subreconhecida pelos doentes e grupos populacionais de risco5. Embora muita evidência tenha sido já revelada quanto a este lado oculto da DPOC, o PNEUMOBIL poderia dar o seu contributo quanto à sua realidade, por um lado entre doentes e frequentadores daqueles centros de assistência médica, e por outro em grupos de funcionários de empresas, sem qualquer problema médico actual. Resultaram assim os grupos “privado” e “público”, designações abreviadas para exames efectuados, respectivamente, em grupos activos profissionalmente, sobretudo empresariais, ou junto de centros de saúde, hospitais ou centros de assistência médico-sanitária.

As características da população-alvo, adultos fumadores e ex-fumadores, com idade igual ou superior a 40 anos, parece comparável, no que respeita a idade, altura e índice de massa corporal. No que respeita a este último parâmetro, há certa correspondência até entre os grupos masculino e feminino, que não diferem significativamente entre si. Não se tratando de uma amostra fiel da população portuguesa continental, não deixa de se tratar de um grupo vasto e diversificado de 5324 indivíduos, sobretudo de raça caucasiana, com predomínio do género masculino, idade média de cerca de 50 anos (53,19±10,66 no grupo privado e 56,42±11,18 no grupo público), com escolaridade razoável, ligeiramente melhor no grupo privado, onde há menos iliteracia (Fig. 3) e com história de consumo tabágico actual ou passado.

Testaram-se números aproximadamente equiparados de fumadores e ex-fumadores, e o curso do hábito exprime também o que se passa na população adulta portuguesa. O início do hábito, em média, pelos 17 anos, uma carga tabágica média de cerca de 35 unidades maço ano e uma exposição média de 28 anos exprimem provavelmente o que se passa entre nós. É curiosa a constatação de que, em regra, os fumadores que cessam o seu hábito o fazem pelos 40 anos, sendo o consumo médio dos fumadores actuais de 18 cigarros por dia.

Quando não se atinge a cessação por aquela altura, é mais provável que o consumo continue num alto nível, já que a média entrefumadores e ex-fumadores é superior, pelos 22 cigarros por dia. Curiosamente, esta média de consumo é ligeiramente superior nas mulheres, quer no grupo privado, quer no grupo público, mas o tempo de exposição ao tabaco e a carga tabágica, medida em unidades maço ano, são ligeiramente superiores no género masculino.

Se, por um lado, a selecção dos indivíduos fumadores ou ex-fumadores leva à predominância masculina nestes grupos, o que é certo é que o consumo médio das mulheres equipara ou excede mesmo o dos homens, revelando uma evolução recente dos hábitos e dos consequentes riscos9.

Quanto à exposição profissional, que no presente estudo não era uma condição procurada mas sim “constatada”, sendo o principal risco em estudo o do consumo do tabaco, verifica-se que cerca de metade de ambos os grupos era de uma população de actividade terciária (estudantes, serviços, etc.), contando o grupo privado com um peso significativo (masculino/feminino) da indústria metalúrgica (14,59/12,23%) e da construção civil (13,88/15,11 %) e o grupo privado com grupos predominantes de construção civil (10,91/10,75%), indústria metalúrgica (10,33/10,75%) e de comércio (10,33/9,84%).

Já no que respeita à presença de sintomas reportados no questionário, verifica-se franco predomínio da tosse e da expectoração no grupo público, relativamente ao privado. Levando em conta alguma incerteza com a validação do questionário10, previamente utilizado no primeiro estudo do PNEUMOBIL, mas cujos resultados foram consistentes e que foi por isso reutilizado, verifica-se que tossem habitualmente 28,7% dos homens e 29,1% das mulheres no grupo público e 19,1% dos homens e das mulheres no grupo privado. Expectoram  regularmente 31,3% dos homens e 32,2% das mulheres no grupo público e 23,27% dos homens e 23,38% das mulheres no grupo privado.

Se atendermos às características de cronicidade, também predominam no grupo público, com cerca de 12% de indivíduos referindo tossir e/ou expectorar mais de três meses no ano, enquanto no grupo privado essa percentagem se fica pelos 8 a 9%.

Se é certo que, no grupo privado, cerca de 29% têm pieira quando se constipam, só cerca de 5,5% tiveram crises com dispneia, sendo estas percentagens superiores no grupo público, de cerca de 40% e de 9 a 11%. Também quanto à presença de dispneia verificamos o predomínio no grupo público, mas mesmo em membros activos das empresas existe dispneia ao subir uma pequena ladeira em 25% dos homens, 28% das mulheres, e sentem dispneia em repouso cerca de 2% dos inquiridos.

No que se refere ao conhecimento da sua patologia, muitos inquiridos admitem ser portadores de bronquite crónica ou de asma, referindo muito menos o diagnóstico de enfisema e ainda menos o de DPOC. Este diagnóstico foi um pouco mais admitido pelos homens do grupo público (0,84%), mas nos demais grupos foi uma raridade (0,05% nos homens do grupo privado a 0,73% nas mulheres do grupo público). Estes dados vêm ao encontro do que foi recentemente admitido num estudo nacional da sensibilidade para a DPOC11. No entanto, 2 a 5% dos inquiridos tomavam regularmente medicamentos para tratamento da dispneia.

Inquiridos quanto à realização prévia de espirometria, 15% dos homens do grupo público responderam afirmativamente, estando os restantes grupos um pouco acima nesta percentagem, entre 17 e 19%. Apesar de terem conhecimento e de se terem queixado de sintomas respiratórios, só cerca de metade dos inquiridos, no grupo privado, tinham alguma vez procurado um médico especialista para esse efeito, o que ocorrera mais frequentemente nos inquiridos do grupo público.

Muitos dos inquiridos, sobretudo no grupo público, não têm qualquer acompanhamento médico e, mesmo tendo atenção médica, nunca tinham realizado uma espirometria, apesar de todos eles serem fumadores ou ex-fumadores e apesar da sua idade aconselhar a realização deste exame, a título de rastreio ou de esclarecimento dos sintomas, de que muitas vezes são já portadores.

Surpreende assim a prevalência de obstrução das vias aéreas, superior no sexo masculino (mais de 25% no grupo privado e mais de 30% no grupo público), mas também elevada no sexo feminino (12,05% no grupo privado e 14,21% no grupo público). Vários autores, em grandes amostras populacionais de diversificada geoproveniência, referem níveis semelhantes de prevalência na população em geral12,13,14, não admirando que as encontremos neste grupo, em que todos tinham sofrido de exposição ao fumo de tabaco. Quer o género masculino, quer a idade ou o IMC, são factores de risco para a presença de obstrução das vias aéreas, não se tendo encontrado diferença significativa entre os grupos analisados (privado e público).

A ocorrência de obstrução brônquica pode ser associada a outros factores, que na população estudada a favorecem, como a actividade de fundição, ou que a evitam, como é o caso da actividade de estudante e da indústria alimentar, mas o tempo de exposição não parece assumir importância nesta associação.

Os únicos sintomas que têm relação com a presença de obstrução no presente estudo são a dispneia que ocorre na marcha em terreno plano e a história de constipações frequentes, com expectoração, ou de episódios repetidos de bronquite aguda.

Na análise dos parâmetros ventilatórios, para além dos que definem obstrução, vale a pena realçar a correlação entre a CVF e a história conhecida de tuberculose, assim como a exposição da indústria mineira ou da louça e do cimento.

Em conclusão, o estudo PNEUMOBIL, efectuado sobretudo com a intenção de divulgar o risco tabágico na doença pulmonar obstrutiva crónica e a importância da espirometria para o seu reconhecimento, proporciona resultados que revelam uma elevada prevalência de obstrução numa população de alto risco para DPOC (25%), a qual não difere muito entre uma população rastreada na proximidade de Centros de saúde ou hospitais, quando comparada com outra, de características demográficas semelhantes, rastreada em meio empresarial. Sublinha–se ainda o profundo desconhecimento dos portugueses expostos ao tabaco em relação à DPOC e a escassa utilização da espirometria, numa população em que este exame deveria constituir uma rotina.

 

Bibliografia/Bibliography

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7. ATS/ERS Task Force: Standardisation of lung function testing. Standardisation of spirometry. Brusasco V, Crapo R, Viegi G (Eds.). Eur Respir J 2005; 26: 319-338.

8. ATS/ERS Task Force: Standardisation of lung function testing. Interpretative strategies for lung function tests. Brusasco V, Crapo R, Viegi G (Eds.). Eur Respir J 2005; 26: 948-968.

9. Han MK, Postma D, Mannino DM, Giardino ND, Buist S, Curtis JL, Martinez FJ. Gender and chronic obstructive pulmonary disease – Why it matters. Am J Respir Crit Care Med 2007; 176: 1179-1184.

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11. Bárbara C, Cardoso J, Pamplona P, Moita J, Matos MJ, Simão P, Conde S, Coutinho G. Awareness of COPD in Portugal. Am J Respir Crit Care Med 2008; 177:A399.

12. Brehm JM, Celedón JC. Chronic obstructive pulmonary disease in hispanics. Am J Respir Crit Care Med 2008; 177:473-478.

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14. Mannino DM, Braman S. The epidemiology and economics of chronic obstructive pulmonary disease.Proc Am Thorac Soc 2007; 4:502-506.

 

1 Assistente Hospitalar Graduado de Pneumologia, Hospital da Força Aérea/Consultant, Pulmonology Specialist, Hospital Força Aérea

2 Assistente Hospitalar Graduada de Pneumologia, Hospital da Universidade Coimbra/Consultant, Pulmonology Specialist, Hospital Universidade Coimbra

3 Assistente Hospitalar Graduada de Pneumologia, Centro Hospitalar Lisboa Norte – Hospital Pulido Valente/Consultant, Pulmonology Specialist, Centro Hospitalar Lisboa Norte – Hospital Pulido Valente

4 Assistente Medicina Geral e Familiar, Boehringer-Ingelheim/Consultant, General Practice and Family Health, Boehringer-Ingelheim

5 Professora da Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa/Professor, Lisbon Further Education College of Health Technologies

6 Chefe de Serviço de Pneumologia, Hospital de Sta Marta/Head, Pulmonology Unit, Hospital Sta. Marta

7 Assistente Hospitalar Graduada de Pneumologia, Hospital de Pedro Hispano/Consultant, Pulmonology Specialist, Hospital Pedro Hispano

8 Chefe de Serviço de Pneumologia, Centro Hospitalar de Coimbra/Head, Pulmonology Unit, Centro Hospitalar de Coimbra

9 Chefe de Serviço de Pneumologia, Hospital de S. João/Head, Pulmonology Unit, Hospital S. João

10 Professor de Biomatemática da Universidade Nova de Lisboa/Professor, Biomathematics, Universidade Nova de Lisboa

11 Chefe de Serviço de Pneumologia, Centro Hospitalar Lisboa Norte – Hospital de Pulido Valente/Head, Pulmonology Unit, Centro Hospitalar Lisboa Norte – Hospital de Pulido Valente

Correspondência/Correspondence to:

reis0ferreira@gmail.com

 

Recebido para publicação/received for publication: 09.03.16

Aceite para publicação/accepted for publication: 09.04.17