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Revista de Ciências Agrárias

versão impressa ISSN 0871-018X

Rev. de Ciências Agrárias v.34 n.1 Lisboa jan./jun. 2011

 

Os rótulos e as fichas de dados de segurança de pesticidas tóxicos para abelhas

 

Pedro Amaro1

1Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa. pedroamaro@netcabo.pt

 

RESUMO

A redução da mortalidade das abelhas pelos pesticidas exige: o conhecimento da sua Classificação Toxicológica (CT) para permitir a selecção dos menos perigosos; e a adopção de Frases de Segurança (FS), como as referidas em SPe8, por exemplo Evitar os tratamentos nas épocas de floração das culturas e das infestantes, já recomendadas pelo Laboratório de Fitofarmacologia, em 1965, há quase 50 anos. As graves deficiências da informação oficial e das empresas de pesticidas foram avaliadas pela análise de 66 rótulos e 80 Fichas de Dados de Segurança (FDS),acessíveis no conjunto de 115 p.f. de 40 s.a., e evidenciam ser muito elevada a probabilidade de mortalidade das abelhas pelos pesticidas.

Palavras-chave: Abelhas, CT, FDS, FS, pesticida, rótulo, SPe8.

 

The labels and safety data sheets of pesticides toxic to honey bees

ABSTRACT

To reduce bee poisoning by pesticides it is very important: to know the hazard classification (HC)to allow the selection of the less dangerous pesticides; and the adoption of the safety precautions (SP), as SPe8, namely Do not apply to crops in flower or when flowering weeds are present, already recommended by the Laboratório de Fitofarmacologia in 1965, almost 50 years. The graves official and pesticides suppliers informations' deficiencies were evaluated by the analysis of 66 labels and 80 Safety Data Sheet (SDS), accessible in the set of 115 products of 40 active ingredients, that allows the conclusion of a very high probability mortality of honey bees by pesticides.

Keywords: HC, honey bees, label, pesticide, SDS, SP, SPe8.

 

INTRODUÇÃO

As deficiências da comunicação do risco dos pesticidas, pela Autoridade Fitossanitária Nacional (AFN) e pelas empresas de pesticidas, têm sido amplamente evidenciadas, em especial desde 2007 (3), com particular ênfase nos pesticidas com efeitos específicos na saúde humana e, mais recentemente, no silêncio, nas omissões e na confusão no caso dos pesticidas perigosos para as abelhas (4,5,6,7,8,12,13,14).

Também tem sido realçada a deficiente informação e até, recentemente, a dificuldade de acesso, em especial aos Rótulos e às Fichas de Dados de Segurança (FDS) (9, 10 11). Estas circunstâncias justificaram a realização da investigação destas questões.

 

MATERIAL E MÉTODOS

A legislação

As exigências legais relativas a Rótulos e Fichas de Dados de Segurança (FDS) de pesticidas, como substâncias perigosas, são definidas em numerosos diplomas, de que se destacam:

• Decreto-Lei 294/88 (art.4º-9º, Anexos IV e V) – Homologação de pesticidas;

• Portaria 732-A/96 ﴾art.18º-21º. Anexo X – Ficha de Dados de Segurança (FDS)﴿;

• Decreto-Lei 94/98/Directiva 91/414/CEE - Colocação no mercado dos produtos fitofarmacêuticos (art. 16º);

• Decreto-Lei 82/2003/Directiva 1999/45/CE - Classificação, rotulagem e FDS de preparações perigosas para o homem e o ambiente, quando colocadas no mercado (art. 9º, 10º, 13º, Anexo VIII - Guia de elaboração das FDS) e Circular da DGPC de 2/6/03 – CT para abelhas);

• Regulamento (CE) 1907/2006 – Registo, avaliação, autorização e restrição dos produtos químicos (REACH) (art.31º-35º, 113º-116º, 126º, Anexo II – Guia para a elaboração das FDS);

• Regulamento (CE) 1272/2008 – Classificação, rotulagem e embalagem de substâncias e misturas, que define a Regulamentação CLP e adere ao Sistema Mundial Harmonizado de Classificação e rotulagem de produtos químicos (GSH) (art. 17º- 42º);

• Regulamento (CE) 1107/2009 - Colocação dos produtos fitofarmacêuticos no mercado (art. 65);

• Regulamento (CE) 453/2010 – Alteração ao Regulamento 1907/2006 (REACH) (art. 1º, 2º, Anexo II – Requisitos para a elaboração das FDS).

Em relação a RÓTULOS,já, no Decreto-Lei 294/88, se incluía a exigência de símbolos,das indicações de perigo e de algumas das 19 frases de risco R e dos 15 conselhos de prudência S. No Decreto-Lei 82/2003, entre as exigências, destaca-se a obrigatória inclusão de categorias de perigo, símbolos de perigo e de algumas das 68 frases R e das 64 frases S (Segurança), completadas, no Regulamento 1107/2009, por frases de riscos especiais e precauções e a exigência, pelos Estados Membros, de projectos de rótulos e folhetos a apresentar antes da concessão da autorização. O Regulamento 1272/2008, com aplicação desde 1/12/10, aumentou as exigências, relativas ao conteúdo do rótulo, a adoptar entre 28 classes de perigo, 74 categorias de perigo, 10 pictogramas de perigo, 2 palavras-sinal, 78 advertências de perigo e 121 recomendações de prudência.

Nos rótulos dos pesticidas com toxidade para as abelhas devem ser incluídas a classificação toxicológica (CT)e as adequadas frases de segurança (FS). Na Circular de 2/6/03 da AFN, isto é a DGPC, relativa à "Aplicação do Decreto-Lei 82/2003…" determina-se que: "a empresa deverá ter presente os critérios nacionais, em particular, a classificação, para …abelhas: Muito Tóxico para abelhas(DL50 <2µg s.a./abelha) ou Tóxico para abelhas (2µg < DL50 <11µg s.a./abelha), Nestes casos, a empresa deverá propor frases de segurança adequadas tendo em consideração os Anexos IV e V da directiva 91/414/CEE"… (5, 6, 7, 12, 14).

As FICHAS de DADOS de SEGURANÇA (FDS) dos produtos químicos, já foram definidas pela Directiva 91/155/CEE e pela Portaria 732-A/96 e revistas pela Directiva 1999/45/CE, que incluiu os pesticidas, e foi transposta para a ordem jurídica interna pelo Decreto-Lei 82/2003. As FDS foram alteradas no Anexo II do Regulamento (CE) 1907/2006 do REACH e depois modificadas, pelas normas do GSH, no Anexo I do recente (20/5/10) Regulamento (CE) 453/2010. Na mais recente versão dos "Requisitos para a elaboração das FDS", tal como em 2003, esclarece-se:

"A FDS deve permitir que os utilizadores tomem as medidas necessárias relacionadas com a protecção da saúde humana e a segurança no local de trabalho, assim como a protecção do ambiente. O responsável pela elaboração da FDS deve ter em conta que essa ficha deve informar os utilizadores dos perigos de uma substância…".A FDS deve ser elaborada por uma pessoa competente, que tenha em conta, na medida do possível as necessidades específicas e os conhecimentos dos utilizadores…e que recebeu formação apropriada, incluindo cursos de reciclagem".

A FDS é constituída por 16 rubricas. A informação relativa à toxidade de pesticidas perigosos para abelhas deve ser incluída nas rubricas 2 (3 até 2007), 12 e 15.

Na rubrica 2 – Identificação dos Perigos, indicam-se clara e sucintamente os perigos para as pessoas e o ambiente, referindo a classificação da toxidade (CT) e as informações de alerta adequadas associadas a esses perigos. É evidente que, a par da muito frequente referência, nesta rubrica, a organismos aquáticos, devem incluir-se as abelhas, sempre que a toxidade do pesticida o justificar.

Na rubrica 12 – Informação Ecológica,já desde 2003 se mantêm a exigência:

"Além disso, se estiverem disponíveis, devem ser incluídos dados sobre a toxidade para os microrganismos e macrorganismos do solo e para outros organismos com relevância ambiental, como aves, abelhas e plantas".

Na rubrica 15 – Informação sobre Regulamentação, em vez de "reproduzir as informações em matéria de saúde, segurança e ambiente que constarem do rótulo… ", referido nos Guias de 2003 e 2007, a versão de 2010 (REACH) opta por "deve descrever as outras informações regulamentares…que ainda não constam da FDS".

A informação

A AFN temtransmitido a informação sobre a toxidade dos pesticidas para abelhas (CT e FS), em 3 Guias (3,6,13):

• Guia "Amarelo", Guia dos Produtos Fitofarmacêuticos – Lista dos Produtos com Venda Autorizada, iniciado em 1962 com a Lista dos Produtos Fitofarmacêuticos Comercializados em 1962 (Publicação anual, em geral);

• Guia da Internet, Guia dos produtos com Venda Autorizada (actualizado ao longo do ano, sempre que haja nova informação);

• Guia GCTE, Guia das Características Toxicológicas e Ecotoxicológicas (publicação em 1977,1995,1996 e 2001 e divulgação na Internet em 2005, com posteriores alterações e suspenso "para revisão", desde fins de 2009.

No Guia "Amarelo", desde 1965, foi adoptada a CT Tóxico (T) para ABELHAS e desde 1967, além de T, também MT (MuitoTóxico), no caso de carbaril, dinosebe, DNOC, endrina, fentião, mevinfos, paratião e tiometão. Esta classificação manteve-se até 20/2/95, quando foi autorizado o Extremamente Perigoso (EP) imidaclopride. No Guia "Amarelo" de 2007 há 2 EP, 14 MP e 14 P, mas, sem qualquer esclarecimento da AFN, neste Guia de 2008, foram eliminados EP e MP e só restam 2 P (esfenvalerato e flufenoxurão) e, nos Guias de 2009 e 2010, só 1P (flufenoxurão)!!! Nos Guias da Internet e GCTE tem-se mantido: EP, MP e P (13). Em Novembro de 2010, no Guia da Internet, surgiu a excelente inovação de acesso aos rótulos, que, em 15/11/10, 18/1/11 e 6/4/11, abrangeu, para os insecticidas, respectivamente: 39,0%; 47,5%; e 51,9% (dos 162 p.f. existentes em 6/4/11) (14).

As EMPRESAS DE PESTICIDAS têm adoptado a política de "esconder", não divulgando, nos portais da Internet, os rótulos, as FDS e as características toxicológicas e ecotoxicológicas dos seus pesticidas (2,3,4,9,10,11). Em fins de 2010, surgiram sinais de mudança, com louváveis inovações nos portais da Internetde algumas empresas, parecendo justificável a esperança destes bons exemplos, no futuro, serem generalizáveis a outras empresas (14). Actualmente, foi possível o acesso a:

• Rótulos e FDS de Basf, Du Pont, Lusosem, Makhteshim, Nufarm P e Syngenta;

• FDS de Agroquisa, Agrichem, Bayer, Cheminova, Dow, Gowan, Kenogard, Sapec, Selectis e Sipcam.

OUTRAS INFORMAÇÕES podem ser obtidas, por exemplo no The UK Pesticide Guide do BCPC, no Index Phytosanitaire ACTA ou em portais da Internet, como:

• Comissão Europeia – Base de dados de pesticidas;

• Universidade Hertfordshire, UK– The Footprint Pesticides Properties Database.

Os DADOS referidos, nos Quadros 1 a 7, são relativos a 1 de Março de 2011.

 

Quadro 1– 16 p.f., à base de imidaclopride, classificados de EXTREMAMENTE PERIGOSOS (EP) para abelhas, no Guia da Internet da AFN (14).

 

Quadro 2– 42 p.f., à base de 11s.a., classificadas de MUITO PERIGOSAS (MP) para abelhas, no Guia da Internet da AFN, à excepção de10 p.f. de 3 s.a. só referidos no Guia "Amarelo"(*) (14).

 

Quadro 3– 21 produtos fitofarmacêuticos, à base de 10 substâncias activas, classificados de PERIGOSOS (P) para abelhas, no Guia da Internet da AFN (14).

 

Quadro 4– 13 produtos fitofarmacêuticos, à base de 8 substâncias activas, classificados de MP ou P pelas empresas de pesticidas, mas sem classificação (S), no Guia da Internet da AFN.

 

Quadro 5– 23 produtos fitofarmacêuticos, à base de 10 substâncias activas, Sem classificação (S), no Guia da Internet da AFN, mas com FS para defesa das abelhas, definida pela EFSA..

 

Quadro 6 – Classificação toxicológica (CT) adoptada: no Guia da Internet da AFN;e pelas EMPRESAS DE PESTICIDAS nos rótulos e nas FDS de 92 p.f. de 30 s.a.

 

Quadro 7– Frases de segurança (FS) adoptadas, pelas EMPRESAS DE PESTICIDAS, nos rótulos e FDS de 92 p.f. de 30 s.a., com CT de EP, MP, P e S, referida no Guia da Internet da AFN.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os pesticidas classificados, no Guia da Internet da AFN, EXTREMAMENTE PERIGOSOS (EP) para as abelhas

Desde 1997 até 2007, foi adoptada pela AFN, para o imidaclopride, no Guia "Amarelo", a classificação de EP. A frase de segurança (FS) A - Não aplicar na época da floração, ocorreu em 1997, mas, entre 1999 e 2007, foi completada por Não aplicar em limoeiros (form. Pulverização). Em 2008 tudo foi eliminado! No Guia da Internet foi mantida EP e as duas FS, entre 2008 e 2010, e também no Guia GCTE, em 1996 e 2001, e em 1995 com EP e só a FS A; em 2005, neste Guia, a CT variou entre P e S (Sem informação). A evolução do nº de p.f. de imidaclopride, iniciada com o CONFIDOR, em 1995, e desde 1999 também com o GAUCHO, evidencia aumento progressivo após 2005, atingindo 15 p.f. em 2010 (Fig. 1).

 

Figura 1– Evolução, entre 1997 e 2010, do número de p.f de imidaclopride e da sua CT para as abelhas, no Guia "Amarelo" da AFN e dados de outros Guias (Internet e GCTE). S – Sem informação.

 

No Quadro 1 referem-se os 16 produtos fitofarmacêuticos (p.f.) de imidaclopride (Guia Internet) e as características dos rótulos e das FDS disponíveis. Destes 16 p.f, só foi possível observar rótulos de 11 p.f. (69%), dos quais 9 (56%) no Guia da Internet da AFN, e 9 FDS (56%) (14).

Relativamente aos 11 rótulos, todos (100%) têm a mesma CT (P) e quanto a FS predomina (91%) C Paraa protecção das abelhas e de outros insectos polinizadores não aplicar este produto durante a floração da cultura. Não aplicar em limoeiros, à excepção de 1 p.f. (9%) com B Para a protecção das abelhas e outros insectos polinizadores não aplicar este produto durante a floração da cultura. A floração das infestantes, exigida em SPe8, é ignorada em todos os rótulos, embora muito importante para defesa das abelhas, perante um insecticida EP para abelhas.

Em 9 FDS: não há informação em 6 (67%);a CT P ocorreu só em 3 (33%), e nas rubricas 2 e 12 em 22%, além de 33% na rubrica 15; as FS são ignoradas na rubrica 2eocorrem na rubrica 12 com C em 22% e na rubrica 15 com SPe8 em 11%. A referência à floração das infestantes verifica-se só em 11% com SPe8. Num p.f. EP, até se atinge o cúmulo de realçar, na rubrica 2,: Nenhum risco especial conhecido!!!

É "surpreendente" que a AFN autorize, em 2010, a exclusividade de P, nos rótulos, perante a sua opção por EP, desde 1997 até 2007 no Guia "Amarelo" e entre 2009 e 2011 no Guia da Internet. Também é "estranho" que, no Guia GCTE, o imidaclopride seja EP em 20/2/95, 4/10/96 e 4/10/00 e se aceite P para CONFIDOR em 28/10/04 e KOHINOR 20 SL em 1/9/05 e S (Sem informação) para GAUCHO em 22/10/04 e PROVADO AE em 10/9/04 (Fig. 1, Quadro 1).

Nas CONCLUSÕES da avaliação do risco do imidaclopride, divulgadas em 29/5/09 pela European Food Safety Authority (EFSA)(15), a substância activa (s.a.) é classificada de Very toxicpara abelhas e as pulverizações com High risk. O risco será Low se forem adoptadas as medidas de segurança: Não aplicar durante a floração da cultura e se as infestantes em floração forem removidas antes da aplicação.

De facto, é muito elevada a toxidade do imidaclopride para abelhas: tox. aguda da s.a. – 0,0037-0,081µg/abelha e do p.f. – 0,0056-0,042 µg/abelha; e o quociente de perigo da s.a. – 26786-40540 e do p.f. – 1852-3554(15). Na base de dados FOOTPRINT, o imidaclopride é classificado H (High) e no Guia de 2010 do BCPC é classificado de High risk e na FS alerta-se para não tratar na floração das culturas e das infestantes.

Em 16 p.f. à base de imidaclopride, classificado EP, desde 1997, pela AFN, considera-se inaceitável:

• a classificação P, ignorando EPem todos (100%) os 11 rótulos e as 9 FDS,;

• a ausência de CT e FS em 6 FDS (67%), a par de referidas nos rótulos;

• a ausência de FS na rubrica 2 em 3 FDS (100%);

• ignorar asinfestantes em floração em 11 rótulos (100%) e 8 FDS (89%);

• e o cúmulo de Nenhum risco especial conhecido, na rubrica 2 da FDS de 1 p.f..

 

Os pesticidas classificados, no Guia da Internet da AFN, de MUITO PERIGOSOS (MP) para as abelhas

No GUIA da Internet, são classificados MP 11 s.a. (10 insecticidas e o nematodicida fenamifos), abrangendo o total de 42 p.f. (Quadro 2).

Quanto ao nº de p.f., destaca-se o clorpirifos com 22 p.f., a par de 20 p.f. das outras 10 s.a.. No Guia da Internet, faltam: 6 p.f. de abamectina, APACHE, BERMECTINE, BOREAL, KRAFT, ZORO e ZORO ADVANCE; 2 p.f. de cipermetrina, CYPERCAL e ZIPPER; e 2 p.f. de clorpirifos, DURSBAN 5 G e RICOR 5 G. (14) No Guia "Amarelo", falta o p.f. de clorpirifos CLORMAX (Quadro 2) (14).

A evolução do nº de p.f. do clorpirifos, no Guia "Amarelo", desde 1978,com 1 p.f. (DURSBAN 4) e entre 1984 e 1993 com 2 p.f., evidencia progressivo aumento até 26, em 2006, e posterior redução, com 22 em 2010 (Fig. 2, Quadro 2).

 

Figura 2– Evolução, entre 1978 e 2010, do número de produtos fitofarmacêuticos de clorpirifos e da sua classificação toxicológica para as abelhas, em três Guias da AFN ("Amarelo", Internet, GCTE).

ANão aplicar na época da floração. S – Sem informação.

 

Desde 1978, foi adoptada, para o clorpirifos, pela AFN, no Guia "Amarelo", a classificação MP,quese manteve até 2007, mas foi eliminada (S), entre 2008 e 2010! Em contraste, no Guia da Internet manteve-se MP, entre 2008 e 2010. No Guia GCTE, MP ocorreuem 1977, 1994, 1996 e 2000, mas foi reduzida a P e S em 2005! A FS A ocorreu, a par de MP, nos 3 Guias, mas no "Amarelo", só desde 1990 até 2007 (Fig.2).

No conjunto de 42 p.f. de 11 s.a., foram observados 22 rótulos (52% de 42 p.f.), dos quais 15 (36%) no Guia da Internet (Quadro 2).

A CT MP só ocorreu em 3 p.f. (14% dos rótulos), 1 de clorpirifos, 1 de fenamifos e 1 de oxamil, a par de 13 p.f. (59%) com P, além de ausência de CT em 6 p.f. (27%) de clorpirifos, com 5% de teor em s.a., em contraste (!) com as FDS das empresas de pesticidas que referem 3 P e 3 LD50= 0,07µg.

Nas FS dos rótulos, predominam 13 B (59%), além de 1p.f. de clorpirifos com ANão aplicar na época da floração (form. cpe). Não há FS em 8 p.f. (36%), incluindo 1p.f. de fenamifos e 1 de oxamil, devido, no fenamifos, "ao modo de aplicação". Não há referência à floração das infestantes em todos (100%) os rótulos.

29 FDS (69%)eram acessíveis, tendo 23 (79%) informação sobre abelhas, sendo 16 relativas ao clorpirifos e esta informação faltava em 6 p.f. de ciflutrina+imidaclopride, clorpirifos-meti-lo+deltametrina, fenamifos, oxamil e piridabena, isto é, 21% das FDS.

Nas FDS, além de ausência de CT em 7 p.f. (24%),ocorrem: MP em 6 p.f. (21%); P em 12 p.f (41%); e LD50 em 8 p.f. (28%) (relativos: a abamectina de 0,15µg e P; a acrinatrina de 2µg e MP; e a 6 p.f. de clorpirifos de 0,07 µg, o que corresponde a MP, segundo os critérios nacionais (Circular de 2/6/03 da AFN), pelo que é inaceitável, num p.f., P = 0,07µg). A maior parte desta informação é referida na rubrica 12, com CT relativa a 20 p.f. com 5 MP, 7 P e 8 LD50 (69 %).De facto, ocorrem: na rubrica 2 só 2 P (7%); e na rubrica 15 6 P, além de 1 MP, ou seja24%. A ausência de rigor é mais evidente: num p.f. de cipermetrina, com CT variando com a rubrica (MP na 12 e P na 2 e na 15); e em 6 p.f. de clorpirifos 5%, com CT nas FDS e não nos rótulos!

A ausência de FS nas29 FDS ocorre em 21 (72%)p.f.. A mais frequente FS foi B, em 5 p.f. (17%), além: de 2 p.f. de abamectina com F - Não utilizar este produto durante o período de presença das abelhas nos campos;e de 2 p.f. de clorpirifos com SPe8 e D Não aplicar durante a floração da cultura. Não aplicar na presença de infestantes em floração na parcela a tratar. Ignora-se afloração de infestantes em 27 (93%) das FDS. A ausência de FS foi, nas rubricas: 100% na 2; 93% na 12; e 79% na 15 (Quadro 2).

É inaceitável, em 42 p.f. de 11s.a., considerados MP, desde 1978, pela AFN:


• a ausência de classificação MP em 19 rótulos (86%) e em 24 FDS (83%), a par de 13 rótulos (59%) e de 12 FDS (41%) com P e de 8 FDS (28%) com LD50;

• a ausência de CT nos rótulos de 6 p.f. de clorpirifos 5% (27%), embora referida nas FDS;

• a ausência de CT em 5 FDS (17%), a par de ser referida nos rótulos;

• a variação, na FDS de um p.f., da CT com a rubrica: MP na 12 e P nas 2 e 15;

• a ausência de informação, nas 3 rubricas das FDS, atingir na: rubrica 2 93 % (CT) e 100% (FS); rubrica 12 45% (CT) e 93% (FS); e rubrica 15 76% (CT) e 79% (FS);

• a referência às infestantes em floração ser ignorada em todos (100%) os rótulos e em 93% das FDS.

 

Os pesticidas classificados, no Guia da Internet da AFN, de PERIGOSOS (P) para as abelhas

No Guia da Internet, são classificados com P: 21 p.f. de 10 s.a. (9 insecticidas e o fungicida penconazol).Só 7 rótulos (64%) estavam acessíveis neste Guia (Quadro 3).

O dimetoato destaca-se com onº mais elevado de 6 p.f.. Este valor é o mais reduzido, desde 1962, já com 9, e atingindo o máximo de 13 em 1980-84, 2001 e 2006-07 (Fig.3). No Guia "Amarelo", à excepção de MP em 1971-73, a CT foi P, desde 1965 a 2007 e não há informação (S), entre 2008 e 2010. A FS A foi adoptada em 1965 e de 1989 a 2007. No GCTE, a classificação foi P e A, em 1977, 1993, 1996 e 2000 (14) (Fig.3).

 

Figura 3– Evolução, entre 1962 e 2010, do número de produtos fitofarmacêuticos de dimetoato e da sua classificação toxicológica para as abelhas, em três Guias da AFN ("Amarelo", Internet, GCTE). ANão aplicar na época da floração. S – Sem informação.

 

No conjunto de 21 p.f. de 10 s.a., com 6 p.f. de dimetoato e os outros 15 p.f. de 9 s.a., verifica-se, em 11 rótulos (52%), todos (100%) P, mas só 8 (73%) com FS: 6 B,1 D e 1 F. A ausência de referência a infestantes em floração atinge 91% (Quadro 3).

FDS, em 8 s.a. (80%) e 17 p.f. (81%), mas com ausência de CT em 5 p.f. (29%) e nas rubricas: 2 de 82%; 12 de 53%; e 15 de 65%; a CT ocorre na rubrica 2 com P em 3 p.f. (18%); na rubrica 12, em 8 p.f. (47%) com 3 P e7 LD50 entre 0,15µg para dimetoato e >100 µg para flufenoxurão; e na rubrica 15 com 6 p.f. (35%), todos P.

A ausência de FS é: de 53% nas 17 FDS; de 100% na rubrica 2, de 82% na rubrica 12, com 1 A e 2 B; e de 71% na rubrica 15, com 3 B, 1 D e 3 SPe8. A referência às infestantes em floração é ignorada em 14 (82%) FDS (Quadro 3).

A informação relativa a 21 p.f. de 10 s.a. (9 insecticidas e o fungicida penconazol), classificados P pela AFN (no dimetoato desde 1965), evidencia ser inaceitável:

• a ausência de CT: em 5 FDS (29%)(a par de CT referida em 3 rótulos); e em 82% na rubrica 2; em 53% na rubrica 12; e em 65% na rubrica 15;

• a ausência de FS em: 27% dos 11 rótulos; 53% das 17 FDS; 100% na rubrica 2; 82% na rubrica 12; e 71% na rubrica 15;

• areferência às infestantes em floração ser ignorada em 91% dos rótulos e 82% das FDS.

 

Os pesticidas sem classificação (S), no Guia da Internet da AFN, mas classificados MP ou P para as abelhas, pelas empresas de pesticidas

No Guia da Internet da AFN, não há CT nem FS em 13 p.f. de 8 s.a., em contraste com as empresas de pesticidas que classificam: de MP aalfa-cipermetrina: e de P as 7 restantes s.a., incluindo outros 2 piretróides (beta-ciflutrina e deltametrina) há muito considerados Não Perigosas (N) pela AFN e 4 (1 MP/EP clotianidina e 3 P – indoxacarbe, spinosade e spirodiclofena) recentes em Portugal e, ainda, o fosmete+teflubenzurão Quadro 4),

Foram observados 12 rótulos (92%), dos quais 10 (83%) no Guia da Internet, evidenciando facilmente o contraste entre as classificações das empresas e a ausência de classificação da AFN. Em 100% dos rótulos havia CT: 1 MP (8%) e 11 P (92%). As FS ocorreram em 92 % dos rótulos, com predomínio (83%) de F e com 9% em cada D, J e K, mas só em 2 (17%) p.f. com referência a infestantes em floração.

Nas 10 FDS (77%)predominou a ausência de informação. Na CT, com 3 P (30%) e 1 LD50 de 0,05µg (10%), atingiu 60% e nas 3 rubricas,: 2 (100%); 12 (80%); e 15 (80%). Quanto a FS, foi de 70% enas rubricas: 2 (100%); 12 (90% e B); e 15 (80% e SPe8) e de 8 p.f. (80%) nas infestantes em floração (Quadro 4).

A atribuição, pelas empresas de pesticidas, de informação relativa a CT e FS de 8 s.a. e 13 p.f evidencia ser inaceitável:

• a ausência, no Guia da Internet da AFN, de informação das empresas de pesticidas relativa: a rótulos de 12 p.f., com CT de 1 MP (8%)e 11 P (92%);

• em 10 FDS.: a ausência de CTem 60% (a par de referida nos rótulos); e a ausência de FS em 70% (embora referida nos rótulos) e nas rubricas: 2 em 100%, 12 em 90% e 15 em 80%;

• a ausência relativa a infestantes em floração: 83% nos rótulos e 80% nas FDS.

Os pesticidas sem classificação (S), no Guia da Internet da AFN, mas a que a EFSA exige Frases de Segurança (FS) para defesa das abelhas

Há muito tempo que a AFN classifica de N – Não Perigosos insecticidas piretróides, como alfa-cipermetrina, beta-ciflutrina e deltametrina, agora classificados pelas empresas de pesticidas MP ou P para abelhas (Quadro 4) e outros, como bifentrina que a EFSA (17) considera com elevada perigosidade e exigindo medidas de segurança para defesa das abelhas, nomeadamente SPe8, B, J e Q (Quadro 5). Também em países, como França e UK, a classificação dos piretróides diverge da AFN. Por exemplo no UK, no BCPC, a bifentrina foi MP, entre 1990 e 1995, e é EP desde 1997, mas em Portugal manteve-se sempre N, desde a sua introdução no mercado em 1991, isto é há 20anos (1,6,7,8,13). Pobres abelhas!

A fenazaquina, sempre S em Portugal, desde a sua introdução em 1999, tem elevados toxidade aguda (1,21 - >100 µg/abelha) e quociente de perigo (47-165) e efeitos adversos para as abelhas, que justificam a decisão da EFSA adoptar, em 2010, a FS B (24). Também para 4 benzoilureias (diflubenzurão, lufenurão, teflubenzurão e triflumurão)foi esclarecida, em 2008 (16,19,20) e 2009 (23), a toxidade para as larvas de abelhas, que justifica a adopção de FS: B, J e K. Para flonicamida foi adoptada B, pela empresa de pesticidas e no Guia da Internet da AFN (Quadro 5).

Não se incluem, no Quadro 5, quatro s.a. (oxicloreto de cobre (18), calda bordalesa (18), enxofre (22) e óleo de Verão (21)) com inúmeros p.f. e de elevado consumo em numerosas culturas, com "Conclusões"relativas à avaliação do risco para as abelhas, divulgadas pela EFSA entre 30/9/08 e 19/12/08, algo preocupantes, por evidência de risco e necessidade de medidas de segurança e de investigação (6,8,13).

Em relação ao total de 23 p.f. foram observados, rótulos de 10 p.f. (44%), mas só 8 (80%), no Guia da Internet da AFN.

A CT só foi adoptada em 5 rótulos (50%) de bifentrina e lambda-cialotrina e era N. Quanto a FS, só ocorreu B no rótulo da flonicamida (10%), sem referência a infestantes.

15 FDS ocorreram em 65% dos 23 p.f., com CT só em 5 (33%), exclusivamente na rubrica 12, incluindo 2 N e 3 LD50 (0.038 µg e 1 µg na lambda-cialotrina e 0,1µg na bifentrina). Não há FS nas rubricas das 15 FDS, ignorando assim a EFSA (Quadro 5).

A informação relativa a 23 p.f. de 10 s.a., evidencia ser inaceitável:

• autorizar 10 rótulos, incluindo 1 do MP/EP bifentrina, sem CT, com ausência de FS, em 90%, e sem referência a infestantes em floração, em 100%;

• nas 15 FDS, ser de 100% a ausência de referência a FS, ignorando a EFSA.

 

Síntese global

No total de 74 s.a., verifica-se que 44 (60%) têm toxidade para as abelhas (Quadros 1- 4 e calda bordaleza, enxofre, óleo de Verão e oxicloreto de cobre). As s.a. S têm CT: 2 MP e 16 P (Quadros 4 e 5). A CT das 44 s.a.abrange: 1EP, 13 MP e 30 P.

Os resultados da análise, referidos nos Quadros 1 a 4, quanto à classificação toxicológica para as abelhas (CT) e às Frases de Segurança (FS) são sintetizados nos Quadros 6 e 7. Verifica-se ter sido possível, em relação a 92 p.f. de 30 s.a., observar 56 (61% dos p.f.) rótulos(dos quais 73% no Guia da Internet da AFN) e 65 (71 %) FDS. Não se considera nesta Síntese, pela sua precariedade a nível nacional, a informação relativa a 23 p.f. de 10 s.a., com dados relevantes provenientes da EFSA (Quadro 5).

Relativamente à CLASSIFICAÇÃO TOXICOLÓGICA (CT), nunca foi referido Extremamente Perigoso, pelas empresas de pesticidas, em contraste com 16 p.f. de imidaclopride, classificados EP, pela AFN no Guia da Internet (Quadros 1 e 6).

MP só ocorreu em 4 rótulos (7%), incluindo a alfa-cipermetrina (sem FS), referida pela BASF mas ignorada pela AFN, e em 6 FDS (9%) (4 sem FS), em contraste com a classificação MP atribuída pela AFN a 11 s.a. e 42 p.f. (Quadros 2, 4 e 6).

As referidas classificações EP e MP e as diferenças entre a classificação P nos 46 rótulos (82%) e nas 65 FDS (43%) e entre a ausência de classificação S nesses rótulos (11%) e nessas FDS (37%), são bem esclarecedoras, da evidente falta de rigor e de qualidadena elaboração, pelas empresas de pesticidas, dos rótulos e das tão importantes FDS e da indiferença da AFN perante esta triste realidade. É oportuno recordar (ver p.93) as normas do GSH: "A FDS deve ser elaborada por pessoa competente … e que recebeu "formação apropriada"… (Quadro 6).

Quanto às CT nas FDS, também graves deficiências são evidenciadas pela análise de S, com aausência de CT em 37% do total das FDS e valores mais elevados nas 3 rubricas. Na rubrica 2 Identificação dos Perigos ignoram-seas abelhas em 89%. Na rubrica 12 – Informação Ecológica, que deve expressamente referir as abelhas (verp. 95), ignoram-se as abelhas em 51% e na rubrica 15 – Regulamentação, a ausência dessa informação atinge 72% das FDS (Quadro 6).

Quanto a FRASES DE SEGURANÇA (FS) também é muito deficiente a informação divulgada nos rótulos e nas FDS (Quadro 7).

A ausência de FS ocorreu em 21% dos 56 rótulos (principalmente nos MP (36%) e P (27%)﴿ e em 66% das65 FDS, em particular nos MP (72%) e S (70%). Nas rubricas das FDS, essa ausência é: 100% na rubrica 2; 88% na rubrica 12; e 78% na rubrica 15.

As FS mais frequentes nos rótulos foram: B em 36 %, F em 20% e C em 18% e nas FDS só se destacou B com 17%.

A referência a SPe8, definida na Directiva 2003/82/CE (Anexos IV e V da Directiva 91/414/CEE) e no Decreto-Lei 22/2004, sempre ignorada nos 3 Guias da AFN, jamais ocorreu nos rótulos e nas rubricas 2 e 12 das FDS e só existe na rubrica 15 de 11% das FDS. A ocorrência de SPe8 nas FDS variou entre 1 p.f. em EP e MP e 3 p.f. em P. A FS SPe8 dá a maior importância à necessidade de não usar pesticidas perigosos para abelhas quando as infestantes estão em floração, aoreferir: Não aplicar este produto na presença de infestantes em floração ou Remover as infestantes antes da floração. Esta questão ocorre também em DNão aplicar na presença de infestantes em floração na parcela a tratar (em 2 rótulos e 2 FDS) e na J Não aplicar este produto durante a época de floração das culturas e das infestantes (em 1 rótulo S). A SPe8 abrange, ainda, outras questões: B e F (Quadro 2) e Remover ou cobrir as colmeias durante a aplicação do produto e durante (indicar o período) após o tratamento; Não aplicar antes de (critério temporal) a precisar (2,3,4,12,13,14).

A evidente indiferença das empresas de pesticidas perante as orientações da AFN é claramente evidenciada por a FS A – Não aplicar na época de floração, referida em 57 p.f. EP, MP e P do Guia da Internet da AFN, ocorrer em 1 rótulo do MP clorpirifose em 1 rubrica 12 do P fosmete (Quadros 1, 2, 3 e 6)!

 

CONCLUSÕES

A Amostra

• Foi possível observar, relativamente a 115 p.f. de 40 s.a., 66 rótulos e 80 FDS, dos quais 56 rótulos e 65 FDS, em 92 p.f. de 30 s.a. referidos nos Quadros 1- 4 e, ainda, mas só pela EFSA considerados com toxidade para as abelhas: 10 rótulos e 15 FDS de 23 p.f. de 10 s.a. (Quadro 5); além de 4 s.a. (oxicloreto de cobre, calda bordalesa, enxofre e óleo de Verão).

A Classificação Toxicológica (CT)

• A CT de 44 s.a. abrangeu: 1 EP, 13 MP e 30 P (Quadros 1- 6).

• A ausência de CT ocorreu em: 11% dos56 rótulos; 37% das65 FDS; 51% das rubricas 12; e 89% das rubricas 2 das 65 FDS (Quadro 6).

• A AFN atribuiu a CT EP a16 p.f. de imidaclopride e a MP a 31 p.f. de 11 s.a. em 33 rótulos (aprovados pela AFN), mas, em claro contraste, as empresas optaram por 24 P, 3 MP e 0 EP (Quadros 1, 2 e 6).

• A CT P, adoptada pelas empresas de pesticidas, revela grande diferença entre 82% dos rótulos e 43% das FDS (Quadro 6).

As Frases de Segurança (FS)

• A ausência de Frases de Segurança (FS) ocorreu em: 21% dos 56 rótulos; 66% das 65 FDS; 88% das rubricas 12; e 100% das rubricas 2 das 65 FDS (Quadro 7).

• A FS mais frequente foi B: nos rótulos (36%); e nas FDS (17%) (Quadro 7).

• A importante FS SPe8, definida pelo Decreto-Lei 22/2004, de 22 de Janeiro (há mais de 7 anos!), nunca ocorreu nos rótulos e nas rubricas 2 e 12 das FDS e só foi referida na rubrica 15 de 11% das FDS (Quadro 7); para esta muito grave Conclusão contribuiu, certamente, o facto da SPe8 jamais ter sido referida nos 3 Guias da AFN!

• O importante objectivo de evitar o uso de pesticidas nas culturas com as infestantes em floração é visadoem 3 FS: SPe8, D e J, que só ocorreram, respectivamente: em 0%, 4% e 2% dos 56 rótulos; e em 11%, 3% e 0% das 65 FDS (Quadro 7).

A AFN e as Empresas de Pesticidas agravam a Toxidade dos Pesticidas para as Abelhas

• Não há coerência nem uniformidade na informação sobre toxidade dos pesticidas para as abelhas, divulgada por EFSA, AFN (Guia da Internet e outros Guias) e empresas de pesticidas (portais da Internet, rótulos e FDS dos pesticidas).

• É inaceitável a caótica diversidade de informação nos 3 Guias da AFN ("Amarelo", Internet e GCTE) e nos rótulos e FDS das empresas de pesticidas (Quadros 1 - 7). (Fig. 1, 2, 3). Que confusão para os técnicos e os agricultores!

• É inaceitável e certamente com graves consequências, que a AFN, no Guia da Internet e noutros Guias, ignore a toxidade (MP e P),de 13 p.f. de 8 s.a., para as abelhas, referida pelas empresas de pesticidas (Quadro 4).

• O nível de degradação da informação da AFN e das empresas de pesticida atinge o cúmulo ao ignorarem dados acessíveis, no portal da Comissão Europeia, relativos ao banco de dados dos pesticidas, da autoria da EFSA,sobre a toxidade para as abelhas de 23 p.f. de 10 s.a. (Quadro 5) e também de calda bordalesa, oxicloreto de cobre, enxofre e óleo de Verão (ver 103),

• Perante a obrigatória referência expressa a abelhas, na rubrica 12 das Regras das FDS, desde 2003 (ver p. 95) é muito grave e inaceitável a ausência, nessa rubrica, de CT em 51% e de FS em 88% das 65 FDS (Quadros 6 e 7).

• A ausência de rigor das empresas de pesticidas e a indiferença da AFN são bem evidenciadas por: na rubrica 2 da FDS de 1 p.f. do EP imidaclopride, se referir Nenhum risco especial conhecido; na FDS de 1 p.f. do MP cipermetrina, a CT variar de MP na rubrica 12 para P nas rubricas 2 e 15; a CT P e as FS referidas nos rótulos serem ignoradasnas FDS de:3 p.f. EP, 4p.f. MP, 3 p.f. P e 6 p.f. S; a CT referida na rubrica 12 das FDS ser ignorada nos rótulos de 6 p.f. do clorpirifos (Quadros 1 - 4). Que confusão!

• A análise desta problemática fundamenta, com toda a evidência, a CONCLUSÃO de ser muito elevada a probabilidade de mortalidade das abelhas pelos pesticidas,oque tem sido já divulgado, em vão, desde 2009 (4,6,13,14).

 

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Recepção/Reception: 2011.04.11

Aceitação/Acception: 2011.04.15

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