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Análise Psicológica

Print version ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica vol.28 no.4 Lisboa Oct. 2010

 

Guarda paterna e representações sociais de paternidade e maternidade

 

Elaine Novaes Vieira (*), Lídio de Souza (**)

 

(*) Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (CAEP), Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília, DF, CEP 70910-900, Brasil; E-mail: enovaesvieira@gmail.com

(**) Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, Av. Fernando Ferrari, nº 514, Vitória, ES, CEP 29075-910, Brasil; E-mail: lidio.souza@uol.com.br

 

RESUMO

Dentre as reflexões sobre a condição masculina observa-se a demanda por uma ‘nova paternidade’, baseada numa maior aproximação afectiva entre pai e filho, bem como no seu envolvimento nos cuidados diários com os filhos. Neste estudo objetivou-se investigar as representações sociais de paternidade e maternidade de homens separados, com a guarda dos filhos há pelo menos um ano e que constituíam famílias monoparentais. Foram entrevistados 11 homens com a utilização de um roteiro semi-estruturado abordando: dados pessoais, RS de paternidade e maternidade, relacionamento conjugal, guarda, quotidiano e avaliações. Os dados foram analisados através do software Alceste e da Análise de Conteúdo. Os elementos das RS de paternidade encontrados foram: Responsabilidade e Acompanhamento, Afectividade e Companheirismo, Orientação e Correção, Responsável pela Manutenção da Família, Equilíbrio e Igual à Maternidade. Já a maternidade é constituída pelos elementos Aspectos Biológicos, Estar Presente, Afectividade e Companheirismo, Igual à Paternidade, Superior à Paternidade, Não Abandonar os Filhos e Equilíbrio. Os dados apresentam RS tradicionais de paternidade (autoridade moral e financeira) e maternidade (aspectos biológicos, afectivos e superioridade materna) e, ao mesmo tempo, indicam a emergência de elementos que remetem à ‘nova paternidade’, como o pai envolvido afectivamente e cuidador e a maternidade como igual à paternidade.

Palavras chave: Guarda paterna, Maternidade, Paternidade, Representação social.

 

ABSTRACT

The “new fatherhood” is one of the themes in studies about men’s condition and it is characterized by the improvement of the father’s participation in children’s daily care and the expression of affection in fathers’ relationship with their children. This study aimed to investigate social representations of fatherhood and motherhood of fathers who have children’s custody and live alone with them at least for one year. Eleven men separated were interviewed about the following topics: personal data, social representations of fatherhood and motherhood, marital relationship, children’s custody, daily activities and evaluation. Alceste software and Content Analysis were used to analyze the data. Social representations elements of fatherhood were: Responsibility and Accompaniment, Affectivity and Friendship, Orientations and Correction, Material Provider, Equilibrium and The Same as Materhood. Materhood’s elements involves: Biological Aspects, Being Present, Affectivity and Friendship, The Same as Fatherhood, Superior to Fatherhood, Not Leaving Children and Equilibrium. In these representations it is possible to identify traditional elements of fatherhood (authority and provider) and materhood (biological aspects, affectivity and superiority). At the same time, these indicates the emergence of elements related to New Fatherhood (involved and caretaker father and the materhood being the same as fatherhood).

Key words: Father’s custody, Fatherhood, Motherhood, Social representations.

 

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2003), 17,7% das famílias brasileiras são constituídas por homens ou mulheres com filhos que vivem sem a presença do cônjuge/companheiro. Na literatura, tais famílias são chamadas de monoparentais e decorrem do aumento do número de divórcios e separações e das mulheres e homens solteiros ou viúvos que cada vez mais criam seus filhos (biológicos ou adoptivos) sem necessariamente constituir ou manter um relacionamento conjugal.

Esses dados confirmam que as instituições familiares, ao longo da história, estão sujeitas a transformações, pois as formas de se conceber a família são socialmente construídas (Santos & Oliveira, 2005). Historicamente, o patriarcado e os modelos tradicionais de masculinidade propiciaram a desvalorização do feminino, estabelecendo diferentes funções para homens e mulheres dentro da sociedade. Assim, no âmbito da família, ao homem foram delegadas as responsabilidades pelo sustento da família e exemplo moral e à mulher as responsabilidades de educação e cuidados com os filhos.

A inserção maciça das mulheres no mercado de trabalho e sua (ainda em andamento) busca por igualdade de direitos e deveres com os homens possibilitaram o questionamento dessas posições e funções sociais. Nesse contexto, os estudos sobre a masculinidade ganharam espaço e possibilitaram a reflexão sobre a condição masculina, questionando as imposições do modelo hegemônico e procurando outras formas de os homens se relacionarem com o sexo oposto e com outros homens. No bojo desses estudos e reflexões observa-se o surgimento de uma ‘nova paternidade’, baseada numa maior aproximação afectiva entre pai e filho, com uma relação afectiva exteriorizada e o envolvimento do pai nos cuidados diários com a saúde, a higiene e a alimentação dos filhos. Essa nova paternidade não surge sem conflitos, é cheia de avanços e retrocessos, mas está a constituir-se num modelo de paternidade possível aos homens.

Navarro (2007) relata que, por muito tempo, os estudos e investigações sobre relacionamento parental se centravam principalmente na relação mãe-filho, com pouca ênfase na paternidade, contribuindo para que a maternidade ocupasse um lugar central no desenvolvimento dos filhos e até mesmo promovendo a culpabilização materna quando havia alguma dificuldade nesse processo. Ao mesmo tempo, a paternidade foi considerada como secundária no desenvolvimento psicológico dos filhos, sendo as conseqüências da ausência paterna os aspectos mais enfatizados pelas pesquisas (Giffin, 2005; Rodrigues, 2000; Rodrigues & Trindade, 1999).

Recentemente, outros aspectos da paternidade passaram a ser estudados. Podemos destacar temas como o envolvimento paterno durante a gestação, parto e nascimento, a participação masculina nos cuidados com os filhos, as expectativas e sentimentos relacionados com a paternidade, o relacionamento pai e filho durante a conjugalidade, as representações sociais de paternidade e maternidade, entre outros.

Nos resultados desses estudos, verifica-se que a paternidade é vista como um projecto de vida, uma escolha (Bustamante, 2005; Velásquez, 2006), sendo que o envolvimento paterno com o filho pode iniciar-se na gestação e preparativos para o nascimento do bebê (Motta & Crepaldi, 2005; Piccinini, Silva, Gonçalves, Lopes, & Tudge, 2004). Em diversas pesquisas, a satisfação no relacionamento com os filhos é ressaltada (Silva & Piccinini, 2007), sendo a paternidade considerada uma realização pessoal que possibilita relações afectivas mais enriquecedoras (Rezende & Alonso, 1995). Mas a paternidade também é considerada uma tarefa árdua, que exige dedicação, renúncia ou readequação de projetos e compromissos sociais (Unbehaum, 2000) e exige sacrifícios para sustentar, educar e formar os filhos (Fuller, 2000).

As pesquisas também indicam que os homens estão a aumentar sua participação nas tarefas domésticas e no cuidado com os filhos, embora eles mesmos reconheçam que isso ainda ocorra de forma irregular, voluntária e vista muitas vezes como um auxílio à esposa (Devreux, 2006; Maridaki-Kassotaki, 2000; Perlin & Diniz, 2005; Silva & Piccinini, 2007; Unbehaum, 2000). Assim, a participação masculina é colocada numa uma posição secundária (tanto pelos homens quanto pelas mulheres), como se a responsabilidade pela casa e filhos devesse ser exclusivamente feminina (Bustamante, 2005; Resende & Alonso, 1995; Toneli, Beiras, Lodetti, Lucca, Gomes, & Araújo, 2006). Por outro lado, alguns homens queixam-se da inferiorização de sua participação nos cuidados parentais, tanto por parte das companheiras quanto por outros profissionais, reivindicando a valorização de sua própria maneira de cuidar dos filhos (Sutter & Bucher-Maluschke, 2008). Diversos autores retratam também as ações masculinas que visam aumentar sua participação no quotidiano dos filhos, se relacionando de maneira mais próxima e afectuosa com eles e diferenciando-se da relação, muitas vezes distante, que tiveram com seus próprios pais (Balancho, 2004; Balzano, 2003; Gomes & Resende, 2004).

Quando ocorre a separação conjugal, algumas modificações no relacionamento pai-filho podem ocorrer. Numa revisão dos estudos sobre esse tema, Dantas, Jablonski, e Feres-Carneiro (2004) verificaram que, na maioria das situações, ocorria um distanciamento entre pais e filhos algum tempo após a separação. Por outro lado, no estudo de Ramires (1997), a separação aproximou pai e filhos, aumentando o vínculo afectivo entre eles.

Pesquisas sobre as representações sociais de paternidade também podem ser destacadas. Villamizar e Rosero-Labbé (2005) entrevistaram homens na Colômbia e classificaram os resultados em três grandes grupos: tendência tradicional, que reforça a responsabilidade paterna em sustentar a família; grupo de transição, para o qual existia uma maior aproximação dos homens em relação aos seus filhos, destacando os sentimentos positivos associados à paternidade e não somente seu papel de responsável pela família; e grupo de ruptura, com a participação masculina no quotidiano doméstico antes mesmo da paternidade e relatos de aproximação afectiva com os filhos e envolvimento nos cuidados parentais. No estudo de Hegg (2004), realizado na América Central, as representações de paternidade também podem ser classificadas em três grupos que, em certa medida, se assemelham aos acima citados: paternidade tradicional, que se refere à provisão material e autoridade moral sobre a família; paternidade moderna, que valoriza as funções de afecto e cuidado com os filhos; e a paternidade em transição, que mescla aspectos da paternidade tradicional e moderna.

No Brasil, Trindade, Andrade, e Souza (1997) encontraram os seguintes elementos das representações de paternidade: Afecto, Relacionamento Positivo, Atributo, Orientação e Provedor. Apesar de identificarem elementos mais ligados à afectividade entre pais e filhos, os autores ressaltam que, no cuidado com os filhos, a divisão de actividades entre pais e mães ainda permanece arraigada às concepções tradicionais. Já entre os adolescentes entrevistados por Trindade e Menandro (2002) as concepções de paternidade englobavam elementos como satisfazer as necessidades dos filhos, educar, dar carinho e atenção. Já a maternidade envolvia cuidar, dar carinho e sacrificar-se pelo filho, além de a mãe ser considerada a figura mais importante para o filho.

De forma geral, verifica-se que os modelos de paternidade ilustrados pelas pesquisas englobam aspectos tidos como tradicionais na paternidade, tais como o pai responsável pela manutenção da família e educador moral, ao mesmo tempo em que emergem discursos e práticas valorizando o cuidado e a afectividade com os filhos. Segundo Mora (2005) os estudos sobre paternidade indicam que está em andamento um processo de transformação do modelo patriarcal, baseado no homem provedor, responsável e dominante na família. Esse modelo em transformação possibilita uma maior proximidade emocional dos homens nas relações com os filhos, além do compartilhamento das responsabilidades e maior envolvimento nos cuidados parentais, o que provoca novas definições na constituição familiar. Assim, tal como ressaltado por Hegg (2004), podemos falar em paternidades, no plural, pois há diferentes formas de representá-las e exercê-las.

Na revisão da literatura verificamos que a guarda paterna não tem sido um tema focalizado pelas pesquisas. Esta constatação talvez decorra do facto de, no Brasil, apenas 5% das separações e 6% dos divórcios resultarem em guarda paterna (IBGE, 2006), muitas vezes em comum acordo com o pai e incentivada por familiares e profissionais eventualmente consultados.

Nesta pesquisa elegemos como objecto de estudo a guarda paterna, visando compreender como é vivenciada a paternidade nesse tipo específico de guarda, através dos relatos de homens separados que, por algum motivo ao longo de sua trajetória, assumiram a criação dos filhos menores de idade por pelo menos um ano. O interesse foi verificar como esses homens que constituem famílias monoparentais (residem com seus filhos sem a presença da esposa ou mãe da criança) representam a paternidade e a maternidade.

Utilizou-se como referencial a Teoria das Representações Sociais, proposta por Moscovici em 1961. As representações sociais são “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (Jodelet, 2001, p. 22). São modalidades de pensamento prático, orientadas para a compreensão e domínio do ambiente social, sendo consideradas “verdadeiras” teorias do senso comum, pelas quais ocorre a interpretação e construção das realidades sociais. Consideramos que essa teoria e os recursos metodológicos de análise a ela associados, nos possibilitam captar os conteúdos estáveis e centrais nas representações sociais, bem como a sua mobilidade e articulação com as práticas sociais.

 

MÉTODO

Participantes

Foram entrevistados 11 homens que moraram sozinhos com seus filhos durante pelo menos um ano. O critério para inclusão foi não viver com esposas, mães ou outras mulheres adultas. No momento da entrevista, suas idades variavam entre 36 e 56 anos, com média de 44 anos, possuíam escolaridade entre Ensino Médio Completo e Pós-Graduação Completa e exerciam profissões que exigiam qualificação formal, tais como professor, advogado, técnico em informática, bancário, fotógrafo, entre outros. Apenas dois dos participantes não residiam mais com os filhos (as filhas de um deles foram morar com a mãe e a filha de outro com a avó materna). Na Tabela 1 estão organizadas as informações referentes à guarda paterna, sendo que todos os nomes utilizados são fictícios, para preservar o anonimato dos participantes.

 

TABELA 1

Informações relativas à guarda paterna

 

Instrumento

Foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturado abordando os seguintes tópicos de informação: dados pessoais, representação social de paternidade e maternidade, história do relacionamento conjugal e da obtenção da guarda, quotidiano com os filhos e avaliações.

 

Procedimentos

Os participantes foram entrevistados individualmente, em locais de conveniência para eles, e autorizaram a sua participação através do Termo de Consentimento para Participação em Pesquisa, após receberem informações sobre os propósitos da investigação.

As entrevistas foram transcritas na íntegra e foram analisadas através do software Alceste e Análise de Conteúdo. O Alceste (Análise Lexical por Contexto de um Conjunto de Segmentos de Texto) é um método informatizado para análise de textos, que procura apreender a estrutura e a organização do discurso, de forma a descobrir relações entre os mundos lexicais mais freqüentemente enunciados pelo sujeito (IMAGE, 2002). O programa agrupa o material analisado em classes em função de suas relações de proximidade e oposição. A Análise de Conteúdo, na metodologia proposta por Bardin (1977), também foi utilizada de modo a complementar a descrição das classes propostas pelo Alceste, com o cuidado de não alterar os conteúdos destacados pelo programa.

 

RESULTADOS

A análise do Alceste resultou num dendrograma composto por 02 Eixos e 06 classes. Na Figura 1 são apresentados os eixos, classes e principais formas reduzidas indicando os conteúdos relacionados a cada classe. Nesse artigo priorizaremos a discussão dos dados referentes ao Eixo 1, que contém as representações sociais de paternidade e maternidade. Mas, para melhor contextualização, o Eixo 2 será exposto resumidamente a seguir.

 

FIGURA 1

Dendrograma do discurso dos participantes

 

Eixo 2 – Dinâmica familiar: Conflitos e soluções

Com 57,32% do material analisado, este eixo apresenta os conteúdos relativos à história dos participantes desde o relacionamento conjugal até a separação e obtenção da guarda, descrevendo o quotidiano dessas famílias e algumas preocupações paternas em relação aos filhos. Nesse Eixo foram obtidas as seguintes classes:

Classe 05 – União, Separação e Guarda: Relata o namoro e decisão para o casamento, gravidez e nascimento dos filhos, além do processo de separação e os factores que influenciaram a decisão pela guarda dos filhos.

Classe 04 – Cuidados Instrumentais: Nessa classe encontram-se os conteúdos relativos ao cuidado diário dos filhos, ressaltando como os pais organizam o quotidiano familiar e cumprem as tarefas relativas a sono, alimentação, higiene e lazer.

Classe 02 – Conflitos e Preocupações: Indica as principais preocupações vivenciadas pelos pais em função de um contexto familiar com conflitos e brigas constantes, principalmente com a ex-esposa o que, em alguns casos, permaneceu após assumirem a guarda dos filhos.

Através dos dados constantes na Classe 05 (União, Separação e Guarda), verifica-se que, para a maioria dos participantes, os seus relacionamentos conjugais iniciaram-se de maneira positiva, mas diversos conflitos surgiram até culminar na separação. Em 06 situações, o término do relacionamento ocorreu de forma amigável. Em 03 casos foi preciso a interferência da justiça, principalmente em relação à guarda dos filhos, todos menores de idade na época.

Quando se separou, em seis situações o casal definiu primeiramente pela guarda materna, principalmente porque ambos concordavam que uma criança pequena deveria ser cuidada pela mãe. Nos casos em que a primeira guarda foi paterna, os principais motivos alegados foram a mudança da mãe para outra cidade/país, melhores condições materiais e financeiras do pai para cuidar dos filhos e melhor relacionamento entre pai e filhos do que com a mãe. Quando a guarda foi posteriormente assumida pelo pai, em três situações os principais fatores que influenciaram a decisão diziam respeito às melhores condições materiais, financeiras e o acesso a determinados serviços que o pai possuía. Dessa forma, verifica-se que as condições financeiras foram determinantes para que os pais do nosso estudo assumissem a guarda dos filhos. Mas mesmo nos casos em que isso ocorreu, a boa relação entre pai e filho também foi ressaltada como importante para a decisão.

Ao serem questionados sobre a participação nos cuidados com os filhos, 07 pais relataram que, mesmo antes da separação, já procuravam envolver-se nessas atividades, o que, de certa forma, influenciou na decisão pela guarda. Já outros pais mencionaram que sua participação nesses cuidados era restrita a aspectos tidos como necessários (levar ao médico) ou tarefas que tradicionalmente são esperadas de um pai, realizadas fora do ambiente doméstico (lazer e transporte foram as mais citadas). Por outro lado, as queixas em relação às atitudes maternas são freqüentes. Quatro pais consideravam que as mães não se preocupavam com os filhos, não se esforçavam para estar próximas e, algumas vezes, negligenciavam as necessidades das crianças, colocando em risco a própria saúde delas. Nesse sentido, os pais se consideravam mais preocupados com os filhos do que as mães, assumindo a guarda também com o objetivo de cuidar melhor deles.

Relatando o quotidiano com os filhos, na Classe 04 (Cuidados Instrumentais), os pais revelaram acompanhar suas diversas actividades. As formas reduzidas mostradas na Figura 01, fazem referência aos horários, orientação, transporte dos filhos (que muitas vezes é realizado pelos próprios pais), alimentação, higiene e vestuário, tarefas domésticas, atividades de lazer e à conciliação do trabalho com todas essas atividades. Nesse aspecto, os pais também se queixaram da pouca disponibilidade das mães para auxiliar no cuidado com os filhos e até mesmo do pouco contato que elas mantêm com eles.

Já as preocupações paternas e os conflitos vivenciados estão presentes na Classe 02 (Conflitos e Preocupações). Os pais relataram as dificuldades com a ex-esposa, principalmente no início da guarda dos filhos, como os conflitos de relacionamento e as soluções que conseguiram para melhorar o convívio familiar. Além disso, revelaram algumas preocupações em relação à saúde física e emocional de seus filhos, principalmente relativas à separação e ao distanciamento materno.

 

Eixo 1 – A nova paternidade: Escolha e responsabilidade

O Eixo 1 contempla 43,23% do material analisado e contém duas classes:

Classe 01 – Paternidade e maternidade: Nessa classe são relatadas as representações de maternidade e paternidade dos participantes, inclusive ressaltando as expectativas e julgamentos sociais em relação à guarda materna ou paterna.

Classe 03 – Avaliações: Contempla as avaliações e dificuldades no exercício dessa paternidade.

A seguir, discutiremos as representações sociais identificadas a partir do material desse eixo e ilustraremos cada tópico com alguns extratos das entrevistas realizadas.

 

SER PAI

As representações sociais de paternidade envolvem os seguintes elementos: Responsabilidade e Acompanhamento, Afectividade e Companheirismo, Orientação e Correção, Responsável pela Manutenção da Família, Igual à Maternidade e Equilíbrio.

 

Responsabilidade e acompanhamento

Ser pai é considerado uma grande responsabilidade, que só é sentida por quem assume realmente o filho. Para isso, não basta ter gerado o filho, é preciso estabelecer um compromisso com ele, ser responsável por atender às suas necessidades. É importante ‘estar presente’ e acompanhar o desenvolvimento do filho, participando do seu quotidiano e nos cuidados diários, como escola, saúde, lazer, entre outros. E isso exige certo sacrifício por parte dos pais pois é necessário reorganizar sua rotina, diminuindo o tempo de trabalho ou os momentos de lazer e, algumas vezes, até mesmo alterando planos de vida em função dos filhos.

“É quando a criança nasce ou quando você tem um filho, você sentir um vínculo, um apego, um cuidado, uma responsabilidade muito grande em relação a aquela pessoinha ali, entendeu? Então quando você sente que você tem esse compromisso, você é pai. Se você não tem esse compromisso você não é pai. Então ser pai é só isso: é compromisso com, com essa criança.” (Sávio)

“E pra isso, exige muito sacrifício, né. E eu, com toda a exigência de filho, as coisas que você tem que abrir mão, a privacidade e tudo mais, às vezes você sonha com uma coisa pra eles e acontece outro. Mesmo assim, eu gosto, eu gosto de ser pai.” (Sidney)

 

Afectividade e companheirismo

Os aspectos afectivos também são elementos fortes na representação de paternidade. Os pais enfatizam os sentimentos positivos que a paternidade traz, como amor, carinho e satisfação, e consideram os filhos como centrais em suas vidas. Nesse contexto, a paternidade provocou mudanças na vida dos participantes e uma nova dimensão afectiva nos seus relacionamentos. Apesar de considerarem-se sobrecarregados com essa escolha, ressaltam que o convívio e a relação afectiva entre pai e filhos é uma forma de retribuição desse sacrifício.

“Ser pai é maravilhoso. É um sentimento de responsabilidade, de carinho, uma afeição enorme. Eu hoje não me imagino sem ser pai. Todo mundo sabe que eu sou pai. Todos os meus amigos, namoradas, eu já me apresento e apresento que sou pai. Já faz parte de mim.” (Saul)

“Ser pai é muito bom, é, ó, não tenho nem assim o que falar, mas você ouvir o seu filho te chamar de pai é muito bom. É muito, ele fala: pai. Nossa, sem explicação. É tudo, é muito bom ser pai.” (Samuel)

O companheirismo também é citado como um aspecto importante. Ser pai é também ser amigo, estabelecendo uma relação de confiança com os filhos. A partir do diálogo e da orientação, os pais se aproximam dos filhos e conseguem auxiliá-los.

“Pai tem que ser amigo, principalmente, se quiser ter atenção, não é atenção dele, de querer ter a atenção do filho, mas atenção de você ter uma proximidade maior e ganhar a confiança do filho. Se você for aquele pai carrancudo, chato, que só dá castigo e só fala não, seu filho ao invés de vir te procurar pra falar quando ele mais precisa de você, ele não vai te procurar.” (Silas)

Alguns pais avaliam que poderiam ser mais carinhosos com os filhos. Ressaltam sua dificuldade nessa área e gostariam de melhorar, apesar de justificarem que a mulher possui maior facilidade para expressar seus sentimentos do que o homem. Por isso, tendem a se relacionar melhor com os filhos do que com as filhas.

“A única coisa é que eu acho que eu poderia ter dado um pouco mais de atenção, mas é aquela estória: a mulher é mais afetiva do que o homem.” (Silas)

 

Orientação e correção

Nas representações de paternidade também aparecem elementos referentes às acções de orientação e correção praticadas pelos pais no processo educativo dos filhos.

“Ah, isso eu faço. Não tenho problema nenhum em fazer. Se precisar, eu falo, oriento, coloco de castigo. Não tenho nenhum problema com isso. Pra mim, isso é uma responsabilidade inerente a situação de ser pai. Se eu tenho de corrigir, eu faço.” (Saul)

O diálogo é considerado uma primeira estratégia para corrigir erros dos filhos. Nesse ponto, os pais enfatizam que é preciso saber negociar algumas coisas, não sendo autoritário, mas também é preciso saber dizer ‘não’ quando necessário. As punições também são utilizadas, sendo que as principais acções mencionadas são a punição verbal e a imposição de algumas restrições às actividades dos filhos, como restringir o tempo para ver televisão, brincar ou permissão para sair de casa. Algumas vezes, os pais recorrem às punições corporais, enfatizando que isso ocorre quando o filho passa dos limites e as outras acções não surtem efeito.

“Pego pesado. Não dou mole não. Pego pesado mesmo. E, igual eu te falei, mostro pra ele que ele tá errado, mostro pra ele que eu sou amigo dele, eu tô falando aquilo ali não é pra brigar. Não bato. Não adianta bater. Mas eu acho que um pregão bem dado, um esporro bem dado é melhor do que bater. Dou esporro, boto de castigo.” (Samuel)

“Porque eu não tenho esse negócio de não bater, não punir. Eu coloco sempre pra eles: a vida tem punição, a vida tem toda ação tem conseqüência. Tem que aprender isso desde agora. Então converso uma, converso duas, converso três. Numa quarta vez eu jogo duro. E eles sabem disso.” (Sílvio)

Alguns pais queixam-se da participação das mães na orientação aos filhos, realçando que elas não partilham essa responsabilidade ou, quando participam, agem de forma equivocada. Consideram também que, em certos assuntos como sexualidade, a orientação às filhas deveria ser feita pela mãe e não pelo pai.

“Igual a mãe, mesmo, já, às vezes atrapalhou muito eu cuidar deles, porque eu cortava algumas coisas pra educar, ela, por sentimento de culpa por estar longe, mandava, até mandava escondido dinheiro pra eles pelas mãos de colegas dele, né. E me atrapalhava em algumas coisas. Então eu cortava algumas coisas no sentido de educar e ensinar a buscar e ela atrapalhava assim, né.” (Sidney)

 

Responsável pela manutenção da família

Apenas Santiago se refere diretamente à função de responsável material quando fala sobre a paternidade: “cara, de pai é prover, é ser exemplo, é ser espelho”. Também apenas três pais se referiram aos aspectos financeiros durante outros momentos da entrevista: Um deles menciona a impossibilidade em oferecer bens materiais aos filhos quando estava desempregado e outro relembra o momento em que sua filha ficou doente e ele não mediu esforços para custear o tratamento. Para outro, ensinar os filhos a lidar com o dinheiro é uma forma de educá-los para a vida.

“Mas o médico falou: olha, eu não vou enganar vocês, o caso dela é um em um milhão. Ela pode voltar, se ela voltar vai ter seqüelas, como pode nunca mais voltar. Então é... Eu não ia desistir nunca. (...) Eu não tive, pra mim não existia obstáculo. Eu lutei muito, daí eu levei ela pro melhor hospital, paguei, fiz empréstimo, gastei o dinheiro que eu não tinha pra ver ela bem. Daí ela ficou bem.” (Silas)

“Então eu, eu, até hoje, às vezes eles ficam com raiva de mim, hoje tem demais. Ficam querendo que eu dê uma coisa pra eles: ‘mas o senhor pode, fica fazendo miséria’. Eu disse assim: ‘eu posso, mas eu não estou te educando se eu tiver, se eu te der isso aí. Então eu quero que você aprenda’.” (Sidney)

A questão do trabalho externo é enfatizada quando os pais relatam as dificuldades e soluções encontradas para conciliar seu tempo livre com a paternidade, já que a maioria trabalha em actividades externas e em jornadas integrais. Alguns não vêem dificuldade em conciliar os cuidados com os filhos e o trabalho, considerando que o mesmo acontece quando as mães estão em situação semelhante. Para outros, essa conciliação exige um certo esforço e, em algumas situações, falta tempo para cuidar de suas próprias necessidades ou do seu lazer.

“As coisas rolaram, né. As soluções foram aparecendo, à medida que os problemas foram surgindo, a soluções iam aparecendo. Então, deu pra levar, então até hoje dá. (...) não é difícil não você conciliar a paternidade, o exercício da paternidade com o trabalho não é uma coisa tão complicada assim não. Ela é mais complicada no discurso, né, de tanto dizerem pros homens que é difícil eles acabam acreditando e acabam realmente achando que não podem fazer isso.” (Saulo)

“Em algumas horas você até reclama, porque você fica saturado também. Mas é, mas é muito bom, pelo outro lado, né, de eles estarem ali, de você ver tá vendo que tá fazendo um sacrifício por eles. Você deixar de fazer, igual eu, vamos supor, me considero bastante jovem ainda, saio, tenho amigos, viajo, e aí você tem que deixar de fazer um monte de coisas, porque tem que fazer pra eles.” (Samuel)

 

Paternidade é igual à maternidade

Nessa categoria estão presentes os relatos que igualam a paternidade à maternidade, sendo que somente dois pais a representaram dessa forma.

“Olha, paternidade pra mim é a mesma coisa que maternidade. Pra mim não existe diferença não. Assim, é aquela pessoa que... eu acho que se a gente for pegar os cuidados maternos e os cuidados paternos, eu acho que a função paterna e a função materna não se colam a homem e a mulher.” (Saulo)

 

Equilíbrio

O equilíbrio aparece como um elemento importante na paternidade. Para ser um bom pai é preciso ter equilíbrio entre todos os elementos já apresentados: responsabilidade, cuidado, carinho, compreensão, orientação, educador financeiro.

“Um bom pai... é aquele que consegue equilibrar o carinho, a atenção com a dureza, com a orientação.” (Sílvio)

“Ah, eu acho que é como eu falei, bom pai seria um pai que sabe ser amigo e falar não também. Isso é ser um bom pai.” (Silas)

 

SER MÃE

Nas RS de maternidade podem ser identificados elementos como Estar Presente, Afectividade e Companheirismo, Aspectos Biológicos, Superior à Paternidade, Igual à Paternidade, Não Abandonar os Filhos e Equilíbrio.

 

Estar presente

Para os participantes, a mãe deve estar presente no quotidiano dos filhos, preocupando-se com eles e participando dos seus cuidados diários.

“É estar presente, estar junto do filho, né. Nas dificuldades, nas alegrias, no sucesso, nas tristezas, isso é o papel da mãe. Estar sempre junto.” (Sérgio)

“Então eu acho que uma boa mãe tem que querer estar perto, acompanhar os filhos, ver como eles estão.” (Saul)

 

Afectividade e companheirismo

A mãe deve ser afectuosa com os filhos, demonstrando atenção e companheirismo, relacionando-se bem com eles. Para alguns pais, a afectividade já nasce com a mulher.

“Acho que ser mãe também é isso, é esse sentimento de carinho, cuidado. Querer ver o filho bem, fazer por onde, isso aí.” (Saul)

“É, uma boa mãe... eu acho que assim, toda mãe já é uma boa mãe.” (Silas)

 

Aspectos biológicos

A maternidade também é representada a partir das questões biológicas relacionadas à gravidez e ao parto. Assim, a ligação entre mãe e filho se inicia na gestação, de uma forma bem mais íntima do que a ligação que será estabelecida com o pai. Silas, por exemplo, ressalta que uma mulher, pelo facto de gerar uma criança, já pode ser considerada uma boa mãe. O instinto materno também é apontado como um factor importante na maternidade, apesar de que, em algumas mães, ele ‘não aparece’.

“E, mãe é uma coisa que é muito mais íntima do que o pai. Eu acho que mãe, é, começa desde o encontro do esperma do homem com o óvulo da mulher. A partir daí a mãe já sabe que é mãe.” (Silas)

“Então eu acho que ela não, não floresceu esse instinto materno, de querer cuidar dos filhos. Eu acho que ela não floresceu isso. Porque mesmo quando a gente tava junto, quem cuidava mais do meu filho era eu. Dava mamadeira, dava banho, acordava de noite, trocava fralda.” (Saul)

 

Maternidade é superior à paternidade

Justamente por estarem presentes na maternidade os aspectos biológicos relacionados à gestação, alguns participantes a consideram superior à paternidade.

“Então mãe é tudo, para mim eu acho que ser

mãe é muito mais do que ser pai.” (Silas) “Eu acho que mãe, mãe acho que é tudo, mãe acho que é tudo na vida da criança, porque na verdade saiu de dentro dela, né. Mãe eu acho que é superior a pai, não tem jeito. Saiu de dentro dela, né.” (Samuel)

 

Maternidade é igual à paternidade

Três pais também julgam que a maternidade é igual à paternidade, sendo que as mesmas características e responsabilidades que a mãe possui também podem ser paternas.

“Ah, a diferença, eu acho que nesse aspecto não tem diferença de pai para uma mãe.” (Sandro)

“Olha, eu acho que é a mesma coisa.” (Sávio)

 

Não abandonar os filhos

Na opinião de seis pais, a mãe não deve deixar seus filhos para outras pessoas cuidarem, devendo ser capaz de sacrifícios para ficar com eles. Afirmam que, se fossem mães, jamais deixariam de ficar com a guarda dos filhos. Nos relatos desses pais aparece uma avaliação negativa em relação às mães que ‘permitiram’ que os filhos fossem criados por eles, numa clara referência à maternidade como algo central na vida de uma mulher e da qual ela não deve abdicar, ainda que passe por dificuldades.

“Eu acho que no lugar dela eu não deixaria acontecer isso. Nunca. Tem mãe que acho que não exerce aquele papel intenso de mãe. Enquanto têm outras que não, têm outras que...” (Samuel)

“[Boa mãe] é aquela que não deixa o filho. Acho que, apesar dos problemas, você tem ex-mulher, ex-marido, mas não tem ex-filho. Você se separa, mas não dos filhos. Então eu acho que uma boa mãe tem que querer estar perto, acompanhar os filhos, ver como eles estão.” (Saul)

 

Equilíbrio

Para ser uma boa mãe, também é preciso equilíbrio. Ela deve estar atenta, acompanhar e facilitar o desenvolvimento do filho, mas ao mesmo tempo deve incentivar a sua autonomia; deve oferecer as coisas aos filhos e colocar limites quando necessário.

“Então boa mãe é aquela que sabe acolher, cuidar do filho, mas deixar ele andar com as próprias pernas. Isso aí é uma boa mãe.” (Silas)

“Ah, uma boa mãe tem que, ela tem que tá em sintonia com o que tá acontecendo com o filho e com a comunidade, com tudo em geral, pra poder fazer o papel dela, não deixar, não deixar que a coisa desande, né.” (Sidney)

 

SER PAI E MÃE

Em certo momento da entrevista, caso o participante não mencionasse a sua opinião sobre a expressão ‘eu sou pai e mãe’, o assunto era provocado. Dois pais não se consideram ‘pai e mãe’ e avaliam que os filhos precisam de cuidado e atenção, que podem ser dispensados tanto pelo pai quanto pela mãe, ou ainda por alguma outra pessoa que se disponha a isso. Dessa forma, cuidar dos filhos passa a ser uma função parental e não paterna ou materna, que pode ser exercida por qualquer pessoa que assuma essa responsabilidade.

“Independente se você é pai ou se você é mãe. Porque a dificuldade que eu tenho para educar ela também teria se tivesse fazendo esse papel. Então esse papo de pai e mãe, a palavra em si não quer dizer nada. Eu não vejo diferença nisso.” (Sandro)

“Eu acho que tanto um homem como uma mulher pode cuidar de seus filhos, tanto dos deles quanto dos filhos dos outros. Isso. Se a pessoa se dispuser a cuidar, pode cuidar do seu filho legítimo, dos seus filhos não legítimos, dos filhos dos outros.” (Saulo)

Outros três pais, apesar de também não se considerarem ‘pai e mãe’, enfatizam que há uma divisão de tarefas entre homens e mulheres e que, no caso deles, realizam ambas as funções por considerar que os filhos precisam de cuidados, independente de quem cuida:

“Tudo que a criança precisa é de quem cumpra os papéis. Criança quer sabe o seguinte: quem vai atender a minha demanda? Ok? Se é o papel, se é o pai que faz o papel do pai ou faz o papel da mãe, isso não importa. Pra ela, ela precisa de cuidado, de carinho, proteção e tudo. E precisa de quem faça esse papel.” (Sávio)

Já um segundo grupo, composto por seis pais, se assume explicitamente como ‘pai e mãe’:

“No meu caso eu fui pai e mãe, né?” (Silas)

“Ser mãe... Não sei. Porque eu não sou mãe. Eu sou pai. Mas às vezes eu faço as duas coisas... Sei lá. (...) É. Eu sou pai e mãe. Eu tenho sempre que estar atento, vendo tudo, corrigindo, dando carinho, me vigiando pra não ficar muito tempo longe de casa, porque eu sou a maior referência dele, eu sei que ele precisa de mim por perto. Então eu acho que eu sou pai e mãe.” (Saul)

Nos relatos desses pais pode-se novamente identificar a existência de uma divisão entre tarefas maternas e paternas. Nessa divisão, a mãe cuida dos aspectos instrumentais e afectivos da relação com os filhos e os pais são os responsáveis pelas questões financeiras e de educação, principalmente quando a mãe não consegue mais corrigi-los. Nesse caso, quando um dos pais não assume sua parte no cuidado com os filhos, o outro deve fazê-lo, o que muitas vezes gera sobrecarga para quem cuida. Sendo assim, eles cumprem ambas as tarefas devido à ausência da mãe e não por considerarem que isso é uma função parental, que poderia ser cumprida por qualquer pessoa.

“Eu tento fazer o que eu posso. Ou mais. O que eu acho que ela não é, eu tento fazer um pedaço da parte dela.” (Samuel)

“Então mostrar pra eles que falta a mãe e eu tenho que fazer o papel dos dois. E pra fazer não é fácil, não é mole.” (Sílvio)

 

APOIO SOCIAL E AVALIAÇÕES

A reação de familiares e amigos em relação à guarda paterna foi bastante heterogênea, variando da reprovação inicial à aceitação da nova situação. Em dois casos, eles desaprovaram a decisão, alegando que uma mãe não deveria deixar os filhos, independentemente das razões. Em outras duas situações, os pais procuraram se manter neutros nessa avaliação, como se pode observar abaixo:

“E tem muita gente que acha isso absurdo até. Cai no campo do absurdo, certo. A mãe não poderia ter deixado um dia, tem que gente que acha isso. Eu, particularmente não acho não. Acho que tudo bem. Ela optou por isso.” (Sérgio)

De forma geral, os familiares e amigos aprovaram a guarda paterna, mas alertaram que o cuidado com os filhos era uma tarefa muito difícil para ser realizada sem a presença de outras pessoas, principalmente do sexo feminino, incentivando os pais a encontrarem namoradas ou companheiras que auxiliariam nesse cuidado. Isso acontecia, principalmente, quando eles tinham a guarda de filhas. Nessa situação, a companhia materna era ainda mais enfatizada, pois o grupo familiar reforçava as dificuldades que um pai poderia ter na educação da filha quando ela chegasse à adolescência.

“No início, meus amigos achavam que eu tinha que arrumar uma mãe pra ele. Eu tinha que arrumar uma companheira, porque ele era muito pequeno, tinha que ter uma mulher perto. E eu falava que não. Ele tinha mãe. Essas outras coisas eu podia me virar.” (Saul)

Alguns pais ressaltaram que as dificuldades para criar filhos poderiam surgir tanto na guarda paterna quanto na materna, independente de quem assumisse o cuidado.

“Então todo mundo achava: ‘Mas você vai ter muito trabalho.’ E eu dizia: ‘olha, o trabalho que eu vou ter é o mesmo que uma mãe tem. Qual é a diferença? Do mesmo jeito que ela vai criar, ela iria cuidar, eu também vou cuidar do mesmo jeito, vou me preocupar com as mesmas coisas, quando tiver doente levar pro médico, as mesmas coisas, não vejo’...” (Saulo)

Apesar disso, não descartam que, em alguns momentos, foi desconfortável enfrentar essa avaliação de que um pai não tem condições de criar suas filhas e identificam até mesmo preconceito em várias situações.

“Mas eu acho que a sociedade impõe muito, muita, muita restrição. Eu tive muita dificuldade de ser pai de duas meninas. Sabe por quê? Por causa do preconceito. Grande, em grande parte das mulheres. Primeiro: as mulheres olhavam pra minha cara, a maioria das namoradas queria intervir no meu quotidiano. Definir a minha maneira de lidar com minhas crianças. E era um transtorno.” (Sávio)

Os pais avaliam que, actualmente, amigos e familiares vêem de forma positiva a relação entre pais e filhos, mesmo não tendo incentivado essa situação desde o início. Apesar de não se considerarem ‘pais especiais’ por cuidar sozinhos dos filhos, sabem que fazem parte de um pequeno grupo que assume a guarda. Por isso, são constantemente elogiados pelo exercício de sua paternidade:

“E aí, com pouco tempo tudo se reverteu. Porque aí todos os nossos amigos: ‘é, realmente os meninos estão melhor com o pai do que com a mãe’.” (Sávio)

“Eu faço o que posso, as pessoas elogiam, acham que eu sou um ótimo pai. Eu realmente faço o que posso, mas acho que é minha obrigação. É meu filho, eu tenho que cuidar, ficar junto. É minha obrigação. Não é nada de mais.” (Saul)

Eles também se avaliam de maneira positiva, ressaltando que estão conseguindo criar seus filhos com sucesso, oferecendo-lhes uma formação adequada.

“Mas eu acho que eu consegui alcançar meu objetivo, que eu criei um ser humano que pelo menos não é revoltado, tem base, sabe o que quer da vida, sabe escolher as coisas. (...) A base eu dei. Isso eu não me cobro, que eu sei que a base eu dei. Eu preparei ela pra vida. Isso eu sei, eu tô tranqüilo nessa parte.” (Silas)

Como ser um pai presente exige ‘desprendimento’ e tempo dedicado aos filhos, quando eles crescem surge um sentimento de ‘tarefa cumprida’. Por isso os pais ressaltam que o compromisso e o sacrifício são recompensados pelos sentimentos positivos associados à paternidade.

“Porque criar filho não é fácil. Tem hora que a gente... nossa, dá trabalho, tem hora que você tem que abrir mão de um monte de coisa mesmo. Em algumas horas você até reclama, porque você fica saturado também. Mas é, mas é muito bom, pelo outro lado, né, de eles estarem ali, de você ver, tá vendo que tá fazendo um sacrifício por eles.” (Samuel)

 

DISCUSSÃO

A responsabilidade masculina pelos cuidados com os filhos tem sido tema freqüente de pesquisas, uma vez que a questão financeira e autoridade moral parecem já ser aspectos assumidos tradicionalmente pelo homem no seu exercício de ser pai, como discute Velásquez (2006):

La paternidad es una relación social compleja, que va más allá del hecho de engendrar un ser humano y que generalmente comprende otras dimensiones, como las de proveer económicamente, ejercer autoridad, proteger, formar y transmitir valores y saberes de padres a hijos e hijas. Asimismo, la participación masculina en la crianza y cuidado de sus pequeños es un aspecto que también se considera central en el ejercício de la paternidad cuando se extienden los valores democráticos en la familia y se busca el logro de una mayor equidad de género. (p. 168).

Segundo a autora, há uma forte relação entre a masculinidade e a paternidade, já que “una forma de ser padre tiene que ver con una forma de ser hombre” (p. 155). Assim, se na masculinidade hegemônica não se incentiva a expressão dos sentimentos e a responsabilidade masculina está baseada no trabalho remunerado e externo ao ambiente doméstico, pode-se compreender porque a paternidade tradicional está baseada na responsabilidade econômica e na autoridade moral sobre a família.

Por outro lado, aspectos como a expressão da afectividade e o companheirismo já se configuram como dimensões bastante citadas nas pesquisas recentes, principalmente nos resultados obtidos com as novas gerações. Alguns autores têm destacado que muitas vezes os sujeitos mais jovens tendem a assumir práticas de paternidade não-tradicionais ou ‘em transição’, em consonância com a ‘nova paternidade’ (Gallardo, Gomez, Muñoz, & Suárez, 2006; Hegg, 2004; Martinez, 2006; Villamizar & Rosero-Labbé, 2005).

Apesar dessas mudanças, de forma geral, a responsabilidade pelo cuidado com os filhos ainda é pouco compartilhada entre pais e mães. A participação masculina ainda é parcial e descontínua quando comparada às mulheres, mesmo quando elas também possuem atividade profissional externa ao lar. Nesta pesquisa grande parte dos participantes reconhecia que durante o relacionamento conjugal a sua esposa era mais responsável pelos cuidados parentais. Por outro lado, também encontramos homens que, durante o casamento, se consideravam mais participativos que as próprias esposas, situação que se manteve após a separação. Vários pais também se queixam da pequena participação materna e criticam a ex-esposas por não terem assumido a guarda dos filhos.

Quando analisamos as representações sociais identificadas, verificamos vários aspectos tradicionais, como a responsabilidade, a orientação e correção e o pai responsável pela manutenção da família. Ao mesmo tempo, identificamos a presença de discursos e práticas que indicam o companheirismo e a expressão da afectividade como aspectos importantes. Assim, a ênfase dada ao relacionamento afectivo, aos cuidados parentais e à ampliação do tempo que passam com os filhos são representativos de uma vivência paterna diferenciada da tradicional. Essa representação é reforçada pela presença do elemento ‘Igual à Maternidade’ e pelo facto do elemento ‘Responsável pela Manutenção da Família’ não ter sido preponderante.

A partir da teoria, podemos identificar os elementos estáveis e ‘duros’ da representação – autoridade moral e financeira da família – mas também verificar a emergência de conteúdos que são flexíveis e indicativos de mudanças na representação – a afectividade e, principalmente,

o elemento Igual à Maternidade – que ainda estão mais periféricos. Nesse caso podemos considerar que a afectividade é indicativa de mudança porque, na maioria das vezes, a vivência da paternidade com seu próprio pai era mais rígida e menos afectiva. Além disso, diversos pais relataram suas dificuldades e esforços para melhorar seu relacionamento com suas filhas, indicando suas dificuldades nesse processo.

As RS de maternidade também indicam esse movimento: os conteúdos mais estáveis dizem respeito aos aspectos biológicos e superioridade da mãe, além da maternidade não ser vista como opção feminina, mas como um imperativo. Por outro lado, elementos que indicam mudanças periféricas são aqueles que igualam a maternidade à paternidade.

O convívio de diferentes elementos, indicando inclusive contradições dentro das mesmas representações também foi encontrado quando os sujeitos representaram o que é ser ‘pai e mãe’. Nesse ponto, também aparecem conteúdos tradicionais da divisão de género, quando os homens relatam haver actividades específicas ou mais propícias de serem realizadas pelo pai e outras cuja responsabilidade deve ser materna. Por outro lado, elementos de transição podem ser observados nos discursos de que tanto o pai quanto a mãe podem ser responsáveis, da mesma forma, pelos filhos.

Apesar de demonstrarem satisfação, os pais relatam dificuldades vivenciadas nesse processo. Ressaltam que, muitas vezes, os profissionais envolvidos na separação e seus próprios familiares priorizavam a mãe na hora de definir a guarda. Assim, o imaginário social ainda reforça que o cuidado com os filhos deve ser responsabilidade materna, aspecto também presente no discurso masculino, como encontrado por Ridenti (1998). A autora questionou se, em caso de separação, os homens entrevistados solicitariam a custódia de seus filhos: apenas dois responderam afirmativamente e os demais ponderaram que a idade dos filhos influenciaria a sua decisão. Em nossa pesquisa também pudemos constatar essa valorização materna em dois momentos: quando o casal optou pela primeira guarda ser materna, justificada pela idade dos filhos e, ao assumirem a guarda, quando os pais foram questionados por amigos e familiares sobre sua capacidade de cuidar dos filhos.

Assim, os dados apresentam representações tradicionais ao mesmo tempo em que indicam a emergência de elementos novos que remetem à questão da ‘nova paternidade’. A própria vivência desses homens, enfrentando dificuldades e preconceitos sociais ao assumir a monoparentalidade já apresenta uma forma não tradicional de exercer a paternidade. Para romper esses obstáculos, é importante que a família monoparental masculina seja vista como mais uma forma de organização familiar que, dentro das contínuas transformações nos valores e modos de vida contemporâneos, pode ser uma vivência satisfatória para os homens e seus filhos.

Embora o número de participantes do estudo seja reduzido, facto que limita qualquer pretensão de generalização dos resultados, é imperioso reconhecer a importância dos dados obtidos. Eles revelam as novas configurações das masculinidades contemporâneas que se refletem não só em novos arranjos conjugais, mas também em novas relações afectivas com os filhos e o compromisso com o cuidado necessário para o seu bom desenvolvimento.

 

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