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Análise Psicológica

Print version ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica vol.28 no.3 Lisboa Sept. 2010

 

Psicologia Comunitária Positiva: Um exemplo de integração paradigmática com populações de pobreza

 

Helena Águeda Marujo (*), Luís Miguel Neto (*)

 

(*)  Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa, Alameda da Universidade 1649-013 Lisboa; E-mail: lenamar@fpce.ul.pt / neto@fpce.ul.pt

 

RESUMO

Os aspectos ontológicos, epistemológicos e metodológicos da psicologia comunitária tornam-na especialmente apropriada para se cruzar eficazmente com o novo paradigma da psicologia positiva. Este trabalho descreve e reflecte uma intervenção conducente a essa integração, realizada junto de populações no limiar da pobreza na Região Autónoma dos Açores. A par do prioritário apoio no domínio das condições materiais, para que a população caminhe para uma vida mais digna, o projecto tem levado a que os profissionais no terreno sirvam de catalisadores na luta pela inclusão e empowerment das populações, e estimulem a consciencialização sobre as forças e virtudes individuais e colectivas através da intervenção com base nos actos de fala. Usando metodologias participativas e apreciativas, e a implementação de um modelo de desenvolvimento comunitário focalizado no positivo, no funcional e nas excepções aos problemas, tem-se potenciado o optimismo, a esperança, o desenvolvimento do sentido de humor e as emoções positivas em geral, bem como uma nova linguagem, onde são agora possíveis palavras positivas para narrar a experiência, caminhando-se para uma perspectiva, não apenas de sobrevivência, mas de “Supervivência”. Cruzam-se assim os conhecimentos científicos recentes da psicologia positiva e da psicologia comunitária numa prática reflexiva, apreciativa e generativa dos profissionais e das populações com quem co-constroem mudanças transformadoras.

Palavras chave: Acto de fala, Inquérito apreciativo, Pobreza, Psicologia comunitária, Psicologia positiva.

 

ABSTRACT

The ontological, epistemological and methodological aspects of community psychology make it particularly appropriate to elegantly and efficaciously intertwine this model with the new paradigm of positive psychology. The present article describes and reflects an intervention aimed at that integration, implemented with populations living under the poverty line in the Portuguese Azores Islands. While supporting priority changes in the material quality of life of the population, the project has been working with the professionals to be catalysts for inclusion and empowerment, while stimulating the consciousness on individual and collective virtues and strengths through the intervention at the speech act. Throughout participative and appreciative interventions, and under a community development positive focus, the project has been enhancing optimism, hope, sense of humour and positive emotions in general, as much as a new language where positive words are now possible to describe life experiences. We tried to move from a survival to a “Supervival” position. We therefore connect recent scientific data from positive psychology and from community psychology into a critical, appreciative, and generative practice involving transformational changes co-constructed between professionals and poverty populations.

Key words: Appreciative inquiry, Community psychology, Positive psychology, Poverty, Speech act.

 

NOVOS DISCURSOS PSICOLÓGICOS

The word which we most often use to talk about the quality without a name is the word “alive”. There is a sense in which the distinction between something alive and something lifeless is much more general, and far more profound, that the distinction between living things and nonliving things, or between life and death. Things which are living may be lifeless; nonliving things may be alive...

Christopher Alexander, “The Timeless Way of Building”

 

O objectivo deste artigo é examinar como o recente modelo da psicologia positiva (Seligman & Csikszentmhihalyi, 2000) pode entrecruzar-se elegante e eficazmente com o paradigma da psicologia comunitária, no sentido de potenciar ambos: levar a uma psicologia positiva aplicada, que veja mais longe do que o intra-individual, e se dedique abertamente ao estudo e intervenção junto das comunidades e instituições, mobilizando-se assim para ser parte activa e útil nas mudanças sociais e no restabelecimento da justiça social; caminhar para uma psicologia de comunitária que vá cada vez mais para além do modelo científico de resolução de problemas e da identificação de necessidades das pessoas, grupos e comunidades (Levine, Perkins, & Perkins, 2005), e concretize verdadeiramente o seu desígnio dos últimos anos: avançar de uma perspectiva de défice para uma centrada nas forças, agenciamento e empowerment das populações, em busca da libertação e do bem-estar colectivo (Nelson & Prilleltensky, 2005). Pretende-se, por conseguinte, que sejam modelos ou teorias verdadeiramente “vivos” (Cronen, 1995) propulsionadores de desenvolvimento comunitário, e suportados em narrativas, não sobre sofrimento ou necessidades, mas sobre “territórios de dádiva e de vida” (Hoffman & Kinman, 2008).

Citando Martín-Baró, num posicionamento tido já em 1986, uma psicologia da libertação deverá, entre outros aspectos, estar menos preocupada com o seu estatuto social e científico, e mais preocupada com os problemas das pessoas em necessidade; ser uma psicologia mais consciente das virtudes e forças das pessoas na busca da mudança; e ser uma nova forma de conceber a libertação como um processo histórico e colectivo (Martín-Baró, 1989). Associada à significativa e intensa palavra “libertação”, que nos transporta de volta a Paulo Freire (2008), Montero (2005), ao reflectir sobre o futuro da psicologia comunitária, sublinha o desígnio de caminhar para o bem-estar das populações – tema especialmente caro à psicologia positiva, ainda que até ao momento sobretudo perspectivado num entendimento subjectivo e intra-individual (Diener & Biswas-Diener, 2008; Huppert, Baylis, & Keverne, 2006).

Ambos estes subdomínios da psicologia têm vindo recentemente a pretender mudar a atenção conferida às variáveis psicológicas, para dar apreço a dinâmicas económicas, sociais, políticas e contextuais, assim introduzindo novos discursos científicos na relação com a vida social (Layard, 2005). Se considerarmos que a ideologia dominante se manifesta na linguagem (Meyer, 2001), podemos reconhecer que as mudanças valorativas são visíveis e a ideologia pode estar a transformar-se: a entrada duma linguagem positiva e emancipatória das populações, reforçadora de uma adjectivação esperançada e de auto-eficácia e auto-determinação é, cada vez mais, um sinal do caminho feito pelas ciências sociais e humanas no sentido de uma investigação justa e transformadora.

Se a sociedade se preocupa hoje com os valores que levaram a um caos económico, que dizer do impacto dos valores que subjazem à ciência? Em muitas instâncias, os valores colectivos como a justiça social, a solidariedade, a gratidão, a generosidade... recebem uma atenção mínima. Se a ciência psicológica os descarta, preferindo antes estudar a depressão, a ansiedade, o crime, a violência ou o medo, acabamos com uma maior visibilidade destes últimos em detrimento dos anteriores e, em consonância, com uma visão denegrida da humanidade em geral. Nas populações consideradas marginais, como as que vivem em pobreza, este fenómeno ganha ainda mais e doloroso impacto (Lott, 2002; Moreira, 2003; Neto, 1996).

Por detrás da ciência estão sempre posições morais. Por detrás destas, estão sempre diferentes práticas. De acordo com Kekes (1993, cit. in Nelson & Prilleltensky, 2005), valores são “benefícios causados pela humanidade que os seres humanos dedicam uns aos outros... Como forma de ilustração, poderemos dizer que o amor e a justiça são bens morais” (p. 44). Ao investigar e intervir na comunidade com uma perspectiva transformadora, e ao escolher o centro de gravidade da intervenção e dos estudos empíricos, podemos fazer aumentar ou diminuir os bens morais.

Neste particular, o paradigma da psicologia positiva veio expandir algo que era terreno próprio da psicologia comunitária: uma acepção clara de valores e o reconhecimento da impossibilidade de uma ciência neutra. Quando hoje, contra ventos e marés, dentro do mainstream conservador da psicologia (Seligman, comunicação pessoal, 2009), se critica a abordagem da psicologia positiva, reconhece-se ainda assim a sua relevância só ao falar dela, e reforça-se a ideia de que é inevitável tomar posições em ciência. Quando a psicologia positiva se dedica ao estudo da felicidade, ou do que faz a vida merecer ser vivida (Csikszentmhihalyi & Csikszentmhihalyi, 2006) está a ser sensível aos valores e a posicionar-se numa dança dialéctica entre o bem e o mal, o belo e o feio, o saudável e o doente, o justo e o injusto... criando condições para uma prática reflectida (Freire, 2008; Freire & Horton, 2002).

Enquanto investigadores, tomamos posições claras quando respondemos às questões: “O que decido estudar – a patologia de uma população ou indivíduo, ou as condições da excelência das pessoas e das comunidades?”; “Quem decido conhecer com o meu estudo – os estudantes universitários, tão acessíveis aos investigadores académicos, e tão bem posicionados em termos de poder social, ou as populações marginalizadas, sem voz e sem qualquer tipo de soberania?”; “Que perguntas faço: sobre o que dá vida, mesmo nas piores circunstâncias, a alguma pessoa ou grupo, ou sobre as causas da fragilidade ou da patologia desses mesmos alvos?”; “Como decido questionar – dando voz directa aos intervenientes, ou quantificando e transformando os ‘sujeitos’ de investigação em números, de forma distanciada e desumanizada?”; “Como intervenho: para além da falsa distinção entre descritivo e prescritivo, escolho melhorar (aumentando o bem-estar, numa posição centrada no “perito”) ou escolho transformar (promovendo o bem-estar ao mesmo tempo que mudo as relações de poder, eliminando a opressão, em verdadeira colaboração e solidariedade) (to “ameliorate” or “transform”, tal como diferenciam Prilleltensky & Nelson, 1997)?” (Marujo & Neto, 2008).

As psicologias positiva e comunitária, em paralelo com outros modelos não deficitários de intervenção dentro dos sistemas humanos (Cooperrider, 2004; De Shazer, 1991; 1994), podem ser considerados movimentos críticos e corajosos em relação ao status quo da psicologia, intentando um horizonte de representação da mudança e dos seres humanos baseado nas forças e no positivo, e na reflexão sobre mudanças de segunda-ordem – que mais do que criar alterações dentro do sistema, procuram transformar o sistema e os seus pressupostos (Rappaport, 1977). Como resultado, estes dois braços da psicologia têm vindo a convidar, implícita ou explicitamente, a uma transformação nos valores dos investigadores, na sua ética e na sua responsabilidade social. Têm aberto as possibilidades e as escolhas sobre novos tópicos de conversa, inquirição e acção.

Recentemente, Mihaly Csikszentmhihalyi (2006, p. 5), um dos fundadores da psicologia positiva, afirmava:

“A perspectiva da psicologia positiva está direccionada para ser correctiva quer, por um lado, do posicionamento de neutralidade valorativa das abordagens experimentais quer, por outro, das visões orientadas exclusivamente para a patologia que permearam muita da psicologia clínica”. Estas influências históricas, culturais e morais estão a impactar com intensidade a psicologia, permitindo-nos entrar em novos tipos de diálogo com os proponentes das teorias, dos métodos e das práticas interventivas (Marujo, Neto, Caetano, & Rivero, 2007; Oishi, 2007; Snyder & Lopez, 2007).

A atenção aos oprimidos e a luta pela inclusão, integração, libertação e reequilíbrio na distribuição de poder (Machado, 1984) tem sido uma das mais fascinantes bandeiras da psicologia comunitária (Levine, Perkins, & Perkins, 2005). Ser psicólogo, enquanto identidade pessoal e profissional (Nelson & Prilleltensky, 2005), pode significar – significa frequentemente – fazer parte dos detentores de poder, pelo que estes novos discursos propõem a possibilidade de libertar os profissionais de paternalismos tradicionalmente utilizados através da observação, classificação, diagnóstico, definição e imposição de propostas de mudança, levandoos assim a pôr fim a uma actuação com base em práticas de hegemonia e opressão (Cobb, 1993; Gergen, Hoffman, & Anderson, 1996). Ao trabalhar com populações desfavorecidas e marginais ao poder, ainda é mais urgente tomar consciência do tipo de práticas implementadas e de teorias subjacentes, pelo ainda maior risco de criação de dependências e menorização das populações, as quais assumem, por regra, por expectativas antecipadas de apoio, e por óbvia resposta ao sistema que estimula dependências e fragilidades, a posição de vítimas.

Nesta mudança de valores, linguagem e posicionamento moral dos cientistas, académicos e práticos, o actual reenquadramento das vítimas – de qualquer tipo de situação – como sobreviventes, foi um dos muitos sinais da mudança recente no discurso e da transformação em termos dos valores. Veja-se a propósito a aplicação desta mudança linguística nas situações de violência doméstica (Teles, 2008). Como desenvolveremos em seguida, temos vindo a propor avançar ainda mais, e intervir numa perspectiva narrativa de “Supervivência” – entendida como o reconhecimento das extraordinárias forças e virtudes inerentes a viver numa posição social, económica, cultural, entendida como deficitária e marginal. O segmento da população que vive em situações socialmente injustas, e que é ainda muitas vezes rotulado como desonesto ou aproveitador do sistema (que o oprime) – tal como acontece com as populações beneficiárias do Rendimento Social de Inserção – merece um entendimento e um olhar de admiração e apreço, por conseguir, tantas vezes, mais do que sobreviver, ser inspirador de uma extraordinária e heróica capacidade de Supervivência. É preciso celebrar cada acto de heroísmo, por mais banal (Cronen & Lang, 1995; Zimbardo, 2007).

 

O PROJECTO V.I.P. – VALORES, INFLUÊNCIAS E PROJECTOS

Blake saw that if your myth-created ideology was hierarchical, you couldn’t function outside that hierarchy.

Northrup Frye

 

A antítese do valor da igualdade está bem patente no conceito VIP – sinónimo das pessoas realmente importantes, que têm privilégios especiais, no fundo os que já têm tanto e, por isso, merecem ainda mais. Foi esta a ideia inspiradora do título do programa desenvolvido, com o apoio do Instituto de Acção Social – Rendimento Social de Inserção – da Região Autónoma dos Açores, em conjunção com Câmaras Municipais (Ribeira Grande) e Santas Casas da Misericórdia da mesma região. A concepção de que todos somos e – merecemos ser – VIP (Very Important Person), juntou-se aos três pilares que pretendíamos desenvolver com este projecto de Psicologia Positiva Comunitária: os Valores (dos profissionais, investigadores e académicos envolvidos, e das populações a viver em pobreza), as Influências (positivas, recebidas e transformadas por cada um, quer fosse profissional, quer beneficiário do RSI), e os Projectos (numa concepção clara de uma psicologia e de uma intervenção avessa ao olhar determinista sobre o passado, e que tem, isso sim, os olhos postos no futuro, portanto idealizando, e colectivamente sonhando, outras possibilidades) (Marujo & Neto, 2008). Estas linhas estruturais suportaram acções conjuntas práticas, sempre feitas em formato de comunidade e em conversa dinâmica – fossem elas uma intervenção num bairro de realojamento para optimizar a qualidade das relações e o surgimento de soluções conjuntas num momento de crise e conflito entre os moradores, ou acções junto de grupos de mulheres domésticas sem outro projecto de vida que não a maternidade, ou intervenções junto de grupos de jovens para quem era relevante potenciar a estabilidade no projecto escolar através de acções pela arte ou da consciência e protecção ambiental da maravilhosa ilha de S. Miguel.

O projecto iniciou-se com o repensar do papel dos profissionais no terreno, para que actuassem de forma verdadeiramente colaborativa e apreciativa, através da expansão de narrativas, possibilidades emocionais e escolhas comunicacionais e comportamentais dos próprios. A conscientização proposta por Paulo Freire (2008) fazia igualmente sentido na perspectiva do reconhecimento dos valores e influências vividos pelos profissionais, e na forma como se sentiam libertos ou presos a modelos psicológicos e valorativos deterministas, classificadores e patologizadores das populações. A reflexão inicial sobre o tipo de linguagem utilizada para falar com e sobre as populações com as quais trabalhavam, levou a um reconhecimento de um papel de opressores e de definidores autoritários da mudança. Mesmo nos momentos em que deveria haver “negociação”, inerentes ao recebimento do RSI, o que os profissionais verificaram sob as suas práticas foi a sua (até aí pouco consciente) imposição de metas de mudança às famílias, metas tantas vezes não percebidas ou não reconhecidas como relevantes por aqueles que as deviam concretizar. Conceitos como “resistência”, “família desestruturada”, “agressivo” ou “alcoólico” foram escrutinados pelos próprios que os utilizavam, avaliando o impacto em si mesmos, naqueles a quem se referiam, bem como na relação mútua estabelecida. As próprias populações puderam partilhar as suas narrativas sobre as palavras que costumavam ouvir sobre si, vindas dos profissionais, e trabalhou-se o conceito de discurso, não como mero descritor da experiência, mas como ponto de partida para a construção da realidade (Gergen, 2001, 2004; Gergen & Gergen, 2005). Desenvolveram-se conversas em grupo sobre o poder da linguagem e o nosso próprio poder na sua escolha – quer envolvendo profissionais, quer a população beneficiária de RSI. Abriram-se perspectivas sobre a liberdade de escolha na linguagem usada e experimentaram-se formas diferentes de descrever ou nomear pessoas e fenómenos. Trabalharam-se as palavras que queríamos usar, as que queríamos ouvir, as que nos orgulhavam e as que nos desvalorizavam; as que nos marcavam positivamente e as que nos feriam; as que nos davam desânimo ou esperança; as de passado e as relativas ao futuro. Introduziu-se nessa altura o modelo do Inquérito Apreciativo (Coopperider, 2004; Cooperrider & Whitney, 2005; Whitney & Cooperrider, 2000), e a importância e poder das perguntas colocadas.

Deixam-se exemplos de interacções apreciativas transformadoras ao nível do acto de fala (Pearce, 1994) utilizadas no projecto, quer das destinadas aos profissionais, quer à população alvo de intervenção: “Qual o momento em que se sentiu mais vivo, realizado, feliz, no trabalho com estas populações?”; “Qual o momento em que se sentiu mais orgulhoso e entusiasmado por fazer parte desta comunidade?”; “O que tem posto de melhor de si neste trabalho?”; “O que mais admira em si como mãe/pai/ser humano?”; “Quem vê de fora a sua família, que pontos altos e forças identifica? O que mais os une e os faz felizes?”; “Se encontrasse a lâmpada do Aladino, quais os 3 desejos que pedia para o futuro do trabalho com esta comunidade?”; “Se encontrasse essa lâmpada, quais os desejos que pedia para a sua família/comunidade onde vive?”). Estas questões, todas elas baseadas no modelo de David Cooperrider (2004), foram ponto de partida para novas conversas, sempre que possível em contexto de grupo, comunidade, vizinhança. Começando com entrevistas dois a dois, como o modelo do Inquérito Apreciativo prevê, passou-se depois nalgumas das comunidades e grupos a momentos usando o World Cafe (Brown & Isaacs, 2005), e mantendo o questionamento apreciativo como forma de identificar o melhor do passado e caminhar conjuntamente para os sonhos de futuro. Nesta metodologia, os intervenientes – no caso, as populações de pobreza, os responsáveis pelas áreas da saúde, educação, formação profissional, os coordenadores de serviços do Instituto de Acção Social, os profissionais no terreno, professores, jornalistas... – reuniram-se em redor de múltiplas mesas, como em esplanada, sendo que cada mesa tinha um tema ou questão positiva e materiais que permitissem expressões múltiplas, e o uso do hemisfério direito e do esquerdo (toalhas de papel, canetas e lápis de muitas cores para desenhar ou escrever, e sempre comida e bebida). A dinâmica activa da metodologia, que implica viagens entre mesas e o máximo de “polinização” de pessoas e ideias, permite um modelo de conversas transformadoras, entre pessoas de diferentes posições sociais que assim trabalham ao mesmo nível de poder, num formato de “rizoma” e não de verticalidade na intervenção (Hoffman & Kinman, 2008). Daqui partiram ideias de futuro a trabalhar em conjunto, com responsabilidades partilhadas na concretização das mudanças desejadas por todos.

A relevância da forma de colocar questões – também já abordada por Paulo Freire, que no seu livro de 1985 com Faundez nos fala em “Aprender a Questionar”, serve a concepção de que as conversas são transformadoras e, quando positivas e centradas no futuro, permitem uma “consciência iluminada” – porque “iluminista” – das forças e virtudes individuais e sociais, e um maior poder sobre a forma de moldar o destino e transformar a realidade.

A fase seguinte do projecto foi manter vivas as conversas em comunidade, aumentar – no sentido de densificar – as relações e as redes sociais, e fazê-lo numa perspectiva apreciativa e mobilizadora de emoções positivas (falar do melhor, dos sonhos, das excepções aos problemas, comer junto com outras pessoas, ter conversas significativas e com resultados práticos, rir em conjunto, re-experimentar emoções positivas já vividas em momentos altos e bons da vida – alegria, entusiasmo, orgulho numa meta atingida...) aumenta a esperança e o optimismo sobre o futuro (Fredrikson, 2006, 2009). Um clima de optimismo ecológico (Ornelas, 2007) mantém acordada a confiança na capacidade de cada um em transformar a sua vida.

A mudança de expectativa – por exemplo, de passar de estar à espera do pior, na pessoa dos profissionais, antecipando a reprodução intergeracional da pobreza, para passar a ver e falar das forças e histórias de sucesso já vividas e, portanto, dos avanços já conseguidos por todos – é um factor essencial para conseguir mobilizar a esperança. Assim se aumenta a probabilidade, junto de psicólogos, assistentes sociais, animadores comunitários..., de renegar construções hegemónicas de destino e inevitabilidade sobre as populações desfavorecidas (Montero, 2005). O mesmo acontece nas próprias populações oprimidas, que através desta intervenção se descobrem com uma força muitas vezes nunca anteriormente reconhecida (Marujo & Neto, 2007).

A par de muitas outras acções criativas e comunitárias, que acompanharam este processo de modificação da linguagem, acções essas, sempre que possível, construídas conjuntamente com as populações, e de acordo com as suas metas sonhadas e com base nas suas maiores competências, potencialidades, virtudes e recursos, o projecto VIP, que vai no seu 6º ano e está ainda em implementação, invoca a liberdade para converter aceitação silenciosa e descontentamento triste com a vida numa vocalização, não apenas dolorosa, como defendia Freire (2008), mas sobretudo fortalecida, apreciativa e mobilizadora. Daí que, através do projecto, profissionais e comunidade tenham vindo a trabalhar intencionalmente juntos em formas de aumentar as emoções positivas nas suas vidas, em rir mais, em treinar um discurso colectivo apreciativo e esperançado, rico em palavras “gordas de boas emoções”, numa perspectiva e linguagem de “dádiva” e descoberta das forças que os mobilizam contra a adversidade e os fortalecem. Continuar a questionar “quais são as dádivas e potencialidades que esta pessoa pode trazer para a comunidade”? “Quais as dádivas e potencialidades que a comunidade pode dar a esta pessoa?” ou “Como superar os impedimentos que nos limitam nestas dádivas?” (Hoffman, 2009; Kinman, 2001) ajuda a comunidade a ultrapassar melhor os exigentes desafios das suas existências. Nunca negando ou esquecendo o negativo, cuida-se que a proporção do que se partilha de bom sobre a vida seja sempre triplamente mais elevada que o que se narra sobre o sofrimento, para que esta comunidade possa florescer (Fredrickson & Losada, 2005).

O impacto destas escolhas metodológicas em termos de saúde física e mental está comprovado (Fredrickson, 2006, 2009) e esse fortalecimento beneficiará uma população já de si enfraquecida em termos de saúde e com menos longevidade que os menos oprimidos socialmente ou que partilham posições de poder social superior (Marujo & Neto, 2008).

A avaliação da eficácia do programa está entretanto a realizar-se mantendo o mesmo tipo de ideologia e metodologia positiva, nomeadamente através do uso do Inquérito Apreciativo (Coghlan, Preskill, Tzavaras, & Catsambas, 2003). Os resultados vão no sentido esperado de empowerment das populações e capacitação para auto-eficácia na construção do destino pessoal e colectivo (Marujo & Neto, 2008).

Um estudo qualitativo, dando voz a 1200 famílias beneficiárias do RSI e representativo da população de todas as ilhas do arquipélago, permitiu preparar um documento – “Álbuns de família: de viva voz” (Marujo & Neto, 2007) – que pretendeu manter vivas as conversas transformadoras em comunidade, partindo das respostas das famílias e daí construindo uma pool de questões positivas e centradas nas soluções eficazes para a vida. A partir desta lista de possíveis questões tem-se tentado manter as comunidades participativas e os diálogos generativos, por forma a dar continuidade a uma verdadeira libertação esperançada face à vida da comunidade e ao seu desenvolvimento.

 

CONCLUSÕES E DESCOBERTAS

Why no colour? Even in those darkest corners, there is never a purity of the degenerate. Beauty is always right before the eyes, glaring at us. What effort, what discipline we all must make to ensure that this beauty is not acknowledged. Open those blinded eyes... for there is no true effort in looking for it, those gifts of life are everywhere around us.

Chris Kinman

 

Este projecto faz sentido dentro da concepção de que as formas de vida são criadas, recriadas e mantidas pela comunicação, e que é nela que as identidades são socialmente construídas (Cronen, 1995). Assim, a descoberta mais profunda que temos vindo a fazer é a do poder extraordinário da linguagem para transformar e para propulsionar o desenvolvimento comunitário. Em consonância, o maior desafio é o de como colocar as questões que realmente libertam, fazem sentido e promovem bem-estar em cada comunidade, caminhando em simultâneo para uma ciência social que se defina em termos de “capacidade geradora”, isto é, capacidade para orientar os pressupostos da cultura, colocar as questões fundamentais relativas à vida social actual, e fornecer novas e inovadoras alternativas para uma intervenção social que gere vida, suporte as potencialidades da existência e estimule uma revolução positiva em torno de conversas e mudanças significativas (Gergen, 1982, 1991; Ludema, Cooperrider, & Barrett, 2001).

Naturalmente que toda a intervenção comunitária é feita de paradoxos, inevitáveis e até desejáveis para um avanço crítico da ciência e da prática. No programa aqui brevemente descrito, e mais detalhado noutra publicação (Marujo & Neto, 2008), sentimos naturalmente esses desafios, que levam a todos os intervenientes a continuar ainda mais as conversas e levantar ainda mais e novas questões. Um dos desafios colocados implica o reconhecimento de que desenvolver o bem-estar pode ser considerado recomendável (Huppert, Baylis, & Keverne, 2006) mas, como refere Etzioni (2001), pode também ser facilmente distorcido numa orientação de apoio social e serviço com as características tradicionais, orientação essa mais baseada numa perspectiva de caridade do que de justiça social (Montero, 2005). Manter-nos alerta para este risco, sobretudo potenciando os factores que mostram ser facilitadores de intervenções realmente justas, participadas e colaborativas, é um dos horizontes da continuação do projecto. Ainda, evitar impor modelos definidos à priori e exteriores sobre bem-estar ou felicidade, mas sim ajudar cada comunidade a descobrir qual é o seu, ou os seus, é uma das orientações do trabalho dos profissionais.

É regra deste projecto que todas as práticas e actividades desenvolvidas sejam feitas de igual forma por todos os participantes, seja qual for a posição de poder ou função no grupo. A humanização e aproximação que advém desta igualdade coloca-nos a todos numa posição mais equilibrada para fazer convites mútuos a mudanças – as mudanças que todos construímos e desejamos – e para conseguir balancear a manutenção de uma perspectiva crítica com uma perspectiva apreciativa (Ludema, Cooperrider, & Barrett, 2001), mantendo a capacidade de resolver problemas ao mesmo tempo que todos nos tornamos em especialistas em soluções, excepções e sucessos. Assim, acreditamos ter uma “ciência mais humana” (Polkinghome, 1983) e conseguir, como dizia Harry Aponte (1994, p. 11, cit. in Smith, 2005), “servir, nunca colonizar”.

 

REFERÊNCIAS

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