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Análise Psicológica

versão impressa ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica v.27 n.3 Lisboa jul. 2009

 

Brincar e jogos de linguagem (*)

Teresa Santos Neves (**)

RESUMO

O presente artigo aborda a evolução da comunicação simbólica, enquanto inter-relacção entre expressão simbólica e interpretação, ao longo do processo terapêutico. A noção de jogos-de-linguagem (Wittgenstein, 1953, 1975) é utilizada como quadro de referência para analisar as especificidades da comunicação simbólica. Com o desenvolvimento do processo terapêutico, vão-se estruturando diferentes jogos-de-linguagem temáticos entre paciente e analista. A partir de um caso clínico de uma psicoterapia analítica de uma criança, discute-se uma das características centrais dos jogos-de-linguagem usados na psicoterapia – a inter-relação entre discursos temáticos.

Palavras-chave: Brincar, Discursos temáticos, jogos-de-linguagem, simbolismo.

ABSTRACT

This paper analyses de evolution of the symbolic communication, as an interplay between symbolic expression and interpretation, during the therapeutic process. Wittgenstein’s (1953, 1975) notion of language-games is used as a framework to analyse the specificities of the symbolic communication. A clinic vignette of a child’s analytic psychotherapy is used in order to illustrate one of the central characteristics of the language-games used in therapy – the inter-relation between different thematic discourses.

Key words: Language-games, Play, Symbolism, Thematic discourse.

INTRODUÇÃO

“So how do we explain to someone what ‘understanding music’ means? By specifying the images, kinaesthesic sensations, etc., experienced by someone who understands? More likely, by drawing attention to his expressive movements. And we really ought to ask what function explanation has here” (Wittgenstein, 1977, p. 70).

Entender a música, tal como compreender o humor, é usado por Wittgenstein (1977) como analogia para a sua concepção de compreensão filosófica. Este autor sublinha o facto de compreender a música não constituir uma explicação, na medida em que não diz respeito, nem à descoberta de factos, nem à construção de teorias. A compreensão da música é mais complexa do que simplesmente argumentar que alguém que compreende música a escutará de forma diferente (e.g., terá uma expressão facial específica, poderá referir-se à música de forma diferente de alguém que não entenda). Deveria antes ser encarada como estando relacionada com a adopção do ponto de vista correcto, um “aspect-seeing1 associado ao que parece ser a capacidade para perceber uma piada ou apreciar música. Este “aspect-seeing”, na música, poesia, pintura, humor, são reacções que pertencem a, e apenas podem sobreviver no contexto de uma forma de vida, uma utilização envolvendo a partilha da experiência que é requerida para interpretar a evidência imponderável, as subtilezas do olhar e dos gestos, todos estes contribuindo para a emergência do entendimento (Monk, 1990).

A análise da comunicação simbólica no contexto terapêutico é análoga à compreensão da música e, em particular, à experiência de escutar música. Tomemos como exemplo uma sinfonia pós-romântica que utiliza a sobreposição de diferentes linhas melódicas como técnica de composição e na qual podemos distinguir as raízes da atonalidade. A música atonal não segue as regras habituais da harmonia e, na medida em que frustra as regras da sequência dos acordes, produz um efeito de surpresa no ouvinte (B. Massin & J. Massin, 1983). Todavia, a analogia entre escutar a música e compreender a comunicação simbólica é baseada numa experiência particular de ouvir música, necessariamente diferente da forma segundo a qual um compositor ou mesmo um músico escutaria uma peça, ou da escuta selectiva de alguém que procura o tema musical central enquanto escuta uma sinfonia.

Tal como numa sinfonia que utiliza a técnica do contraponto para sobrepor diferentes linhas melódicas, que apesar de estarem inter-relacionadas se mantêm relativamente autónomas umas das outras, o encontro terapêutico entre o analista e o analisando cria diferentes discursos temáticos que permanecem interligadas durante o processo terapêutico. Como na música, esta inter-relação entre os diferentes discursos temáticos é altamente dinâmica, exposta a grandes mudanças nas associações entre os mesmos, à medida que o processo terapêutico se desenvolve. À semelhança do que acontece numa sinfonia, na terapia é impossível reduzir o material clínico de uma sessão terapêutica a um único discurso, já que envolve uma inter-relação complexa entre diferentes discursos, mesmo que um tema prevaleça sobre os outros. O nível de análise do contraponto de uma peça de música enfatiza a perspectiva horizontal das diferentes linhas musicais e de como estas evoluem ao longo da peça. A técnica do contraponto convida o ouvinte a prestar atenção às direcções simultâneas das diferentes linhas melódicas e, por isso, introduz uma dimensão temporal na análise da música. Pelo contrário, a harmonia introduz uma perspectiva vertical sobre as sequências de acordes de um momento específico da música (B. Massin & J. Massin, 1983).

Existe um outro argumento que parece apoiar o recurso a esta analogia para exemplificar a temporalidade da comunicação simbólica na terapia. Em ambas as produções há uma tarefa hermenêutica endereçada, uma vez que, como na música, a expressão simbólica convida à interpretação com duas características temporais. Em primeiro lugar, há uma qualidade linear em ambas as produções que permite o reconhecimento de um princípio, um meio e um fim. Em segundo lugar, há uma estrutura temporal cíclica, típica de uma temporalidade da repetição da expressão simbólica e da música que organiza a interpretação em ciclos. Todavia, se estou a escutar a gravação de uma música posso ouvi-la repetidamente. Pelo contrário, o diálogo que tem lugar na terapia é altamente volátil e evapora-se, apenas os participantes directos têm acesso privilegiado ao mesmo, sendo assim apoiado na memória do discurso.

Em psicanálise, a perspectiva freudiana do simbolismo (e.g., Freud e Jones) realça a ligação entre símbolo e simbolizado, nomeadamente as origens e as características atribuídas à relação simbólica, as características do simbolizado e do símbolo. Em contraste, a abordagem kleiniana (e.g., Klein, Segal, Meltzer) destaca os mecanismos psíquicos requeridos para a activação do uso de símbolos nas fases iniciais do desenvolvimento. O presente artigo procura introduzir uma perspectiva distinta do simbolismo, focalizando-se no uso de símbolos no contexto terapêutico. Pretende-se abordar a forma segundo a qual a comunicação simbólica emerge, evolui e é usada na psicoterapia. A noção de jogos-de-linguagem (Wittgenstein, 1953, 1975) é usada como modelo de análise para a compreensão da comunicação simbólica e assinalados os principais discursos temáticos emergentes no processo terapêutico. São identificadas três principais características específicas dos jogos-de-linguagem usados na terapia: inter-relação entre discursos, qualidade reflexiva dos jogos--de-linguagem e diferentes níveis de fluência na comunicação (Neves, 2007). O presente artigo desenvolve fundamentalmente a primeira destas características: a inter-relação entre discursos temáticos. A fim de ilustrar o modelo de análise utilizado, será apresentada uma vinheta clínica dum caso de uma criança de 5 anos que realizou uma psicoterapia analítica semanal com a autora.

QUE TIPO DE JOGO-DE-LINGUAGEM É A SITUAÇÃO TERAPÊUTICA?

Até que ponto a relação terapêutica visa estabelecer um jogo-de-linguagem privado entre o terapeuta e o paciente? Se assim for, quais serão então as características deste jogo-de-linguagem? Mais especificamente, poderá a noção de jogos-de-linguagem de Wittgenstein (1953, 1975) proporcionar um quadro de referência profícuo à compreensão da emergência do significado na análise de crianças, que usa o jogo simbólico como principal suporte para a comunicação entre a criança e o/a terapeuta?

Na sua teoria dos jogos-de-linguagem, Wittgenstein procura identificar os processos que usamos para estabelecer os princípios que regulam as ligações entre a linguagem e o mundo real. A conexão entre uma palavra e o seu significado é encontrada na prática do uso da mesma e não nas teorias ou nas regras. De facto, as palavras ganham significado a partir de um uso específico, que tem que ser contextualizado numa determinada forma de vida. Cada domínio de vida possui um inventário de palavras específico ao uso nesse mesmo campo de acção. Os jogos-de-linguagem são os actos linguísticos que têm lugar dentro desses diferentes domínios da vida social. A este propósito, Wittgenstein (1953) refere “Here the term language-games is meant to bring into prominence the fact that speaking of language is part of an activity or a form of life” (p. 10).

A gramática do jogo-de-linguagem corresponde às conexões internas entre proposições e determina o que faz ou não faz sentido num determinado contexto prático ou científico. As regras da gramática e a sintaxe correspondem à configuração de um jogo: não podem ser justificadas, apenas ser postas em prática, ou seja, jogadas. A gramática fixa o grau de liberdade e estabelece o que podemos e o que não podemos fazer. As relações internas estabelecidas pela gramática não podem ser examinadas ou justificadas. Tal como nos jogos, apenas podemos dar exemplos das mesmas e de quando as regras são usadas correctamente ou não. Por exemplo, a lógica é uma das gramáticas possíveis na qual as regras lógicas constituem as condições de possibilidade do discurso lógico. Por isso, as regras lógicas não são justificadas pela sua correspondência com a realidade, mas resultam de uma convenção linguística, uma opção em descrever o mundo de acordo com essa gramática específica (Wittgenstein, 1969).

Uma das implicações desta abordagem para a construção de significado é que a atribuição de sentido faz parte de um contexto mais alargado – a forma de vida –. Por isso, o significado é fundamentalmente extralinguístico e o lugar da comunicação é exterior à linguagem, constituindo que os sinais, palavras e símbolos veículos de comunicação permitindo assim a partilha da experiência humana, das fantasias, emoções e ideação inconsciente.

Tomando o espaço terapêutico como uma forma de vida, o significado simbólico do jogo da criança, de um sonho, o curso da associação livre, podem ser considerados como um jogo-de-linguagem específico, constituído a partir da inter-relação entre a expressão simbólica do material fornecido pelo paciente e a interpretação do terapeuta. Esta abordagem assenta na concepção do simbolismo de Ricoeur (1965). O simbolismo é, na sua essência, a região de duplo significado, porque ao significado manifesto é adicionado um segundo ou mais significados de que o sujeito não está consciente. A interpretação consiste neste trabalho de revelação dos múltiplos significados, pois visa trazer à luz esta estrutura complexa de significação. Consequentemente, simbolismo e interpretação estão intrinsecamente ligados, pois a interpretação pertence na sua essência ao duplo sentido. Quando confrontado com a actividade lúdica de uma criança no decurso da sessão, o impacto no terapeuta assume a forma de uma pergunta: “O que é que a criança me está a querer comunicar com este tipo de jogo?” O terapeuta, tal como um filósofo que usa o método dos jogos-de-linguagem para dissolver a confusão filosófica, quer ir para além da gramática de superfície duma palavra ou de um jogo para atingir a gramática profunda das fantasias inconscientes (Bouveresse, 1991). Com a interpretação, o terapeuta visa substituir o significado manifesto de um jogo por um novo significado latente, alcançando, assim, a gramática profunda da comunicação. No entanto, esta relação intrínseca entre simbolismo e interpretação levanta vários pontos de discussão. Quais são os limites e as fronteiras desse jogo-de-linguagem que tem lugar na psicoterapia?

Em primeiro lugar, a interpretação, tal como no uso filosófico dos jogos-de-linguagem, não tem a ver meramente com a explicação. Pelo contrário, exige uma compreensão que consiste em fazer ligações entre os diferentes aspectos do material clínico. Quando o terapeuta formula uma interpretação de um sonho ou de um jogo, não procura explicar ou identificar as causas que estão na base dessas actividades simbólicas. Na sessão com a criança, o intrigante no seu jogo não são as causas mas sim o que significa. A interpretação não pretende fornecer uma explicação sobre a construção da ligação simbólica entre a actividade simbolizada e os seus conteúdos inconscientes. Visa sim revelar o(s) possíveis sentido(s) oculto(s), estabelecendo conexões que a criança não tinha pensado anteriormente e, consequentemente, ajudá-la a pensar sobre a sua experiência emocional e desbloquear o processo comunicativo. Do mesmo modo, em relação aos sonhos, o analisando não quer uma explicação, mas sim uma interpretação, porque o que nos intriga num sonho não é o que o provoca, mas antes o seu significado. No entanto, com a interpretação, o analista não limita o seu trabalho à revelação do sentido oculto; também procura desenvolver um entendimento de forma a dar à criança o acesso a um ponto de vista diferente, a um vértice diferente sobre a sua comunicação – um “ver como”2 que assinala a dimensão inconsciente do material. A adopção deste novo ângulo permitirá que a actividade lúdica da criança faça sentido de uma forma diferente (Neves, 2008).

Por outro lado, a interpretação emerge no contexto de uma relação e não pode ser isolada da dinâmica da transferência. Na maior parte dos casos, a emergência de sentido depende muito mais de elementos extra-simbólicos que estão relacionados com a forma de vida da psicanálise do que dos elementos simbólicos em si mesmos. Destes elementos extra-simbólicos destacam-se a experiência emocional partilhada pelo analista e a criança, a análise das relações transferenciais e contratransferenciais, a escolha de uma determinada palavra ou de um brinquedo, a intuição, aspectos não-verbais da comunicação (tais como tom de voz, gestos, expressões faciais, pausas e olhares) e o modelo utilizado pelo analista para dar sentido à comunicação dentro da relação terapêutica.

Em segundo lugar, tal como defendido por Ricoeur (1965), a psicanálise não pode ser reduzida a um exercício de tradução; envolve também a arte da interpretação, o trabalho com as resistências, o manejo da relação. De facto, uma interpretação dada demasiado cedo no tratamento pode intensificar resistências. O terapeuta deve criar as condições para uma re-actualização na transferência da problemática do paciente, porque é no manejo directo da transferência que a mudança pode ocorrer. Contrariamente a uma interpretação de um texto literário ou de uma obra de arte, na psicanálise a interpretação emerge no contexto de uma relação. O analista opera a partir da fala do analisando que está investida de valor simbólico, o que significa que é uma expressão de uma outra língua com as suas próprias regras. Importa também analisar a forma como o sujeito recebe a interpretação feita pelo analista. O setting analítico permite que o terapeuta veja in loco, no aqui e agora, como o analisando recebe a sua comunicação.

DISCURSOS TEMÁTICOS E COMUNICAÇÃO SIMBÓLICA

Ao longo de um processo psicoterapêutico é possível identificar diferentes discursos temáticos, i.e., jogos-de-linguagem temáticos, na interacção entre a criança e o/a terapeuta. A noção de discurso é utilizada enquanto processo altamente dinâmico no tempo e no qual emoções e pensamentos estão interligados. Discurso temático remete para a forma peculiar e idiossincrática de expressão de um tema que emerge e se desenvolve no encontro terapêutico.

Sara vem pela primeira vez à consulta, aos 5 anos de idade, devido a uma masturbação compulsiva que se manifestava em público, nomeadamente na escola. Segundo a mãe, Sara friccionava a sua zona genital em qualquer objecto ou superfície desde que começou a gatinhar e quando ainda usava fraldas. Dada a intensidade do sintoma, os genitais de Sara estavam deformados. Um pouco antes da entrevista inicial, o sintoma tinha parado de se manifestar em casa devido à proibição da mãe, mas continuava a manifestar-se na escola. No plano fantasmático, a mãe parecia ter interpretado o sintoma da filha como uma expressão de uma excitação sexual excessiva, sentida como um sinal de perigo de desenvolvimento futuro de um distúrbio ninfomaníaco ou mesmo de prostituição. A sintomatologia desta criança colocou várias interrogações devido ao seu aparecimento precoce e ao carácter de exposição pública. O material que foi emergindo ao longo das sessões, bem como o seu aparecimento precoce, fizeram excluir a hipótese desta criança poder ter sofrido um abuso sexual. O sintoma foi entendido como um equivalente da sucção do polegar ou dos dedos pelos bebés, como forma de evitar o vazio e de se confortar com uma mãe que, devido à sua própria depressão, não responde suficientemente às iniciativas interactivas do bebé.

Os pais de Sara mantiveram um relacionamento de 9 anos, que haviam iniciado durante a adolescência. Por uma certa pressão da família do pai, começaram a reparar uma casa disponibilizada pelo avô paterno, tendo como objectivo virem a viver juntos, numa fase posterior. Entretanto, a mãe ficou inesperadamente grávida, o que terá introduzido uma certa pressão no relacionamento, pois o pai não queria um bebé tendo mesmo sugerido um aborto. Progressivamente, a relação foi ficando mais tensa e as brigas tornaram-se frequentes. Durante a gravidez, a mãe sentia-se muito deprimida, chorava frequentemente por se sentir sozinha. Por seu lado, o pai não investia a gravidez o que se intensificou quando soube que iriam ter uma menina e não um rapaz, como desejava. Acabaram por se separar quando a Sara tinha cerca de dois anos. A mãe referiu que os primeiros meses de vida de Sara foram muito bons, sentindo um encaixe perfeito com a bebé. Descreve intensas fantasias simbióticas com a filha, parecendo que Sara era investida como um prolongamento narcísico da mãe e funcionar como um anti-depressivo para a depressão materna.

Desde as primeiras sessões de psicoterapia, Sara verbalizava, através dos desenhos e das suas brincadeiras, intensas fantasias de abandono relativamente às figuras parentais. Durante as sessões, revelava um jogo simbólico muito rico e no início da psicoterapia era frequente organizar um jogo do café/pastelaria, no qual ela era a dona/empregada e a terapeuta era a cliente. Usando a plasticina, introduzia uma multiplicidade de bolos, doces e sobremesas que dava complusivamente à cliente/terapeuta. A repetição deste jogo foi interpretada como uma forma desta criança se preencher e evitar o vazio que sentia dentro si, funcionando, por isso, como um equivalente da masturbação. Durante os primeiros meses da sua psicoterapia, Sara reagia intensamente aos períodos de separação, nomeadamente às interrupções para férias. Progressivamente, o jogo da loja foi assumindo diferentes formas que passaram pelo restaurante, a joalharia, a caixa multibanco, a loja multifuncional com bolos, doces mas também com livros que foram sendo introduzidos nas suas brincadeiras, à medida que Sara progredia no seu seguimento e com o início da aquisição da escrita, após a entrada na escola.

Na psicoterapia da Sara é possível identificar diferentes discursos temáticos na interacção entre a criança e a terapeuta. Esses diferentes jogos-de-linguagem, à medida que o processo se desenvolvia, evoluíam de maneira diferente no que respeita ao seu conteúdo e também à frequência com que ocorriam nas sessões. Na psicoterapia de Sara foram identificados cinco jogos-de-linguagem temáticos principais: (I) exploração do setting e da terapeuta – discurso figurado por actividades de jogo e verbalizações que expressavam a curiosidade de Sara sobre a terapeuta e material que sugeriam a emergência da relação transferencial. Este tipo de jogos-de-linguagem expressava de que forma Sara estava a apreender as especificidades do encontro terapêutico e como as principais características do trabalho psicoterapêutico iam sendo estruturadas (e.g., o estabelecimento das principais regras do setting, tais como os limites do tempo e do espaço, o pagamento da psicoterapia, etc.); (II) discurso temático da oralidade – o discurso da oralidade emergiu num período precoce do seguimento e foi repetido por diversas vezes ao longo do processo terapêutico. Este discurso era essencialmente figurado na repetição do jogo do café/pastelaria. A Sara assumia o papel de senhora da loja, alimentando constantemente a terapeuta/cliente com todo o tipo de bolos, sobremesas e doces. A alimentação compulsiva feita à terapeuta pode ser interpretada enquanto expressão da dinâmica entre a identificação projectiva e a contra-identificação projectiva. Através da identificação projectiva, Sara pode alimentar as suas partes famintas projectadas na terapeuta, revelando, por isso, o profundo desejo de ser investida emocionalmente. Do ponto de vista da contra-identificação projectiva, o movimento compulsivo de dar ao outro, esconde a outra face da moeda – a expectativa implícita de receber algo em troca, “de ser retribuída pelo objecto”. Além disso, este material sugere alguma ligação com a temática edipiana, na medida em que revela as dificuldades desta criança na elaboração da problemática edipiana. A cena primitiva era invadida por fantasias orais e sentida como perigosa, porque “se pode morrer pela boca”; (III) temática da separação, fantasias de abandono/autonomia. Este era um discurso nuclear na terapia de Sara e incluía material que expressava as intensas fantasias de abandono, as suas dificuldades em lidar com a separação, o desejo de fusão com o objecto e a sua progressiva transformação numa temática de autonomia. Por discurso nuclear entende-se o jogo-de-linguagem temático mais comum no encontro terapêutico, mas também a temática que está subjacente aos outros discursos, ou seja, após a interpretação, o material que expressa outros jogos-de-linguagem evoluia para uma temática de separação; (IV) discurso edipiano – neste discurso emergiam as dificuldades de Sara e a progressiva elaboração do seu posicionamento face à cena primitiva. O material que expressava este tipo de discurso incluía fantasias relativas à cena primitiva, nomeadamente a curiosidade e excitação que a mesma causava, a exclusão da cena primitiva e a rivalidade fraterna; (V) temática escolar e do conhecimento. Este discurso temático emergiu mais frequentemente na fase final do seguimento quando os jogos da Sara na sessão tinham por referência o seu interesse nas actividades escolares – revelando que a pulsão epistemofílica estava a ser direccionada para escola e para o conhecimento – e com a emergência dos jogos com regras.

Uma das características centrais dos jogos de linguagem temáticos usados na terapia é não terem um carácter mutuamente exclusivo. O material da sessão não constitui a expressão pura de um jogo de linguagem exclusivo e, é, muitas vezes, uma manifestação da inter-relação entre diferentes discursos.

O facto do terapeuta seleccionar estes principais discursos temáticos e não outros levanta várias questões. Na realidade, outra perspectiva poderia ter sido adoptada, como por exemplo, seleccionar discursos temáticos a partir do conteúdo manifesto do material das sessões (e.g., o discurso do jogo da loja em vez do discurso temático da oralidade). No entanto, esta abordagem dificultaria o desenvolvimento de uma análise centrada nas dimensões ocultas e inconscientes da comunicação simbólica. Os limites e fronteiras da abordagem usada na análise do material clínico (reveladas pelo facto da terapeuta seleccionar aqueles cinco discursos principais e não outros), são uma consequência de um duplo papel – por um lado, como investigadora, enquanto alguém que procura investigar as especificidades da comunicação terapêutica e, por outro, como terapeuta de Sara, como alguém que desenvolveu um modo específico de entender e sentir o material em resultado da relação directa estabelecida com a criança. Neste sentido, é possível argumentar que o processo de investigação está profundamente enraizado na perspectiva do terapeuta enquanto participante – não só como interprete mas também como sujeito que vivenciou uma relação intersubjectiva particular com a criança. De facto, a análise do material está alicerçada na contratransferência do terapeuta num duplo sentido. Tal como ocorre na prática clínica, a pesquisa desenvolvida também está sujeita aos limites da interpretação analítica e da produção de significado. Atingir o(s) significado(s) último(s), assim como explorar todas as possibilidades de sentido evocados pela complexidade do material é impossível. Como referido por Kristeva (1986), a abordagem psicanalítica à produção de sentido não pode ser reduzida à busca do significado último devido à sobredeterminação da comunicação simbólica e às limitações intrínsecas da comunicação humana.

Por outro lado, esta abordagem do material clínico está profundamente ligada à contratransferência, uma vez que o/a terapeuta tem acesso a universo específico de significado, a um espaço hermenêutico a que o observador externo não tem acesso. O acesso a este espaço hermenêutico está enraizado na contratransferência o que possibilita uma dada compreensão do domínio simbólico. Na prática, quando o/a terapeuta é confrontado na sessão com um material complexo, a sua atitude de atenção flutuante assume uma expressão concreta na forma como “escuta”, mais de próximo, um discurso em detrimento de outros. Este processo de selecção de alguns aspectos do material, i.e., quando apesar da percepção da complexidade do material o terapeuta escolhe uma linha de interpretação e não outra(s), resulta do facto de ter um papel activo enquanto participante na produção do espaço de significação criado na terapia. Assim sendo, o trabalho do investigador não é independente do terapeuta, pelo que a análise do material clínico está profundamente interligada ao processo de compreensão desenvolvido ao logo da psicoterapia.

Retomando a metáfora musical, a forma como a interligação entre diferentes discursos temáticos funciona pode sugerir ao observador externo a analogia com a escuta de uma música polifónica. Apesar do material sugerir a prevalência de um dos discursos sobre os outros, isso não significa que os outros não estejam presentes, revelando a condensação de uma complexa rede de jogos-de-linguagem. No entanto, a analogia entre a polifonia musical e a maneira como os diferentes discursos se inter-relacionam, deve ser usada dentro de alguns limites. Ao contrário de alguém que ouve uma peça polifónica e que centra a sua escuta no efeito da integração das diferentes linhas melódicas (por exemplo, numa música polifónica executada por um quarteto de cordas, é a integração dos diferentes registos produzidos pelos diferentes instrumentos que cria o efeito de polifonia), o terapeuta, apesar de reconhecer a inter-relação entre os diferentes discursos, deve deixar que o discurso dominante ressoe na sua mente por forma a trabalhá-lo na relação terapêutica. A ênfase no discurso dominante é o resultado de um conjunto complexo de factores, tais como a própria história e evolução da relação terapêutica, da supervisão (enquanto espaço onde são levantadas diferentes hipóteses e entendimentos do material, o papel da contratransferência, etc...), a perspectiva teórica do terapeuta, os seus factores pessoais, e assim por diante.

A supervisão desempenha um papel igualmente importante na produção de sentido, permitindo a amplificação de certos aspectos do material e ajudando o/a terapeuta a elaborar a sua atitude relativamente ao caso. Funciona ainda como um espaço em que dois movimentos, diametralmente opostos, operam. Por um lado, são geradas novas hipóteses de sentido, em especial no que toca à compreensão da dinâmica da transferência e da contratransferência, e por outro lado, quando o/a terapeuta é confrontado com a multiplicidade de sentidos da comunicação simbólica, possibilita a escolha de algumas dimensões de significação (reflectidas, na prática, na ênfase da interpretação de alguns discursos em detrimento de outros).

De forma a ilustrar o modelo de análise – como os diferentes discursos temáticos são figurados em cada sessão e a forma segundo a qual os diferentes discursos se relacionam entre si – e tendo em consideração as condições específicas da produção de sentido no setting terapêutico (não visa produzir explicações, mas sim gerar um entendimento, reconhecendo que a construção de sentido é uma produção intersubjectiva dependente do contexto relacional), serão apresentadas duas vinhetas clínicas da psicoterapia de Sara realizadas em diferentes períodos do seu seguimento. A análise do material clínico não pretende ser uma exploração exaustiva de todo o material emergente nas sessões. Efectivamente, alguns aspectos do material poderiam ser mais desenvolvidos nesta análise. Por exemplo, o jogo da loja pareceu constituir-se como matriz, mas foi assumindo diferentes configurações à medida que o processo terapêutico se desenrolava. Apesar de o jogo do café/pastelaria ter emergido precocemente no seguimento de Sara, este mesmo jogo foi-se desmultiplicando em diversas versões, tais como o jogo da loja das jóias, do banco e da caixa Multibanco, da loja multifuncional com brinquedos e livros, etc... No decurso da terapia, esta primeira versão foi entendida como uma espécie de narrativa primária o que foi, de alguma forma, sugerido pelo funcionamento psíquico da criança e pelo vínculo relacional estabelecido com a terapeuta. Destacar esta versão do jogo configurou a abordagem adoptada relativamente às restantes versões que foram consideradas como derivações do jogo do café/pastelaria, o que provavelmente terá negligenciado alguns aspectos relacionados com as idiossincrasias de cada narrativa lúdica.

O primeiro exemplo clínico é retirado de uma sessão que ocorreu cerca de um ano após o início de seguimento de Sara. Esta era a última sessão antes da interrupção para férias de verão. Na parte final da sessão, Sara disse “Sabes, tenho neve em minha casa. Um dia fui à Serra da Estrela e trouxe de lá um bocado de neve que tenho dentro dum frasco pequeno, apesar da neve já ter derretido.” Associei a neve no frasco ao meu apelido e perguntei-lhe simplesmente se ela sabia que o meu último nome era Neves ao que ela respondeu que sim e terminámos a sessão. O primeiro impacto deste material foi que Sara me estava a dizer de uma forma muito expressiva e surpreendente que me manteria dentro dela, apesar da longa separação para férias.

Nesta sessão Sara revelou, de forma surpreendente, a internalização da terapeuta evidenciando uma progressiva elaboração do discurso de separação/autonomia. A associação imediata com o meu apelido foi sentida contratransferencialmente como um momento intenso de comunicação inconsciente entre a terapeuta e Sara. Este momento da sessão evocou, por contraste, a sessão antes da interrupção para férias do ano anterior, em que Sara se tinha desorganizado e ficado invadida de angústias de separação. De facto, a neve no frasco constituiu um símbolo muito rico que condensou a internalização do terapeuta e da função analítica e que foi usado como tentativa para lidar internamente com a separação.

A sessão seguinte ocorreu um ano e quatro meses após o início da psicoterapia. No início da sessão, Sara voltou a estruturar o jogo da loja que vendia bolos, doces mas desta vez introduziu também livros. Tratava-se dum jogo que já não aparecia há muito tempo nas sessões, após ter sido repetido exaustivamente no início do processo terapêutico. A minha primeira associação foi ao significado anterior deste jogo e à expressão de fantasias orais para lidar com o vazio e as angústias de separação. Avisei Sara que naquela semana teríamos outra sessão para compensar uma sessão que não tínhamos tido na semana anterior devido a um feriado. Sara contou com os dedos o número de dias de intervalo entre as sessões e disse: “Que chatice”, mas num tom de voz que me deixou na dúvida se ela estaria descontente por ter outra sessão tão perto ou se estaria a reclamar como habitualmente, do intervalo entre sessões. Apenas alguns minutos depois percebi que não queria ter uma outra sessão tão próxima daquela (que senti como um bom sinal, de que ela estava mais crescida e autónoma e que já não precisava de vir com tanta frequência, contrariamente a uma fase inicial da psicoterapia quando ficava bastante desorganizada cada vez que precisávamos de mudar sessões).

Depois de organizar a loja, Sara agarrou nos tachos de brincar e retirou do seu interior os bolos de plasticina que lá permaneciam há já alguns meses. Tentou “ler” o que estava escrito nos bolos de plasticina (na última vez que brincara à loja dos doces tinha escrito o nome dos bolos na plasticina). Vendeu-me então alguns bolos. Perguntei-lhe se eram bolos frescos, ao que Sara respondeu que não era ela que os tinha feito, que a senhora que normalmente fazia os bolos se tinha ido embora, pois tinha outro emprego. Neste momento senti que ela estava a dizer-me que a área simbolizada pelos “bolinhos”e doces tinha sido elaborada, e era por isso que a “Sara dos doces” se tinha ido embora. Disse-lhe, “A Sara dos doces não tem aparecido há algum tempo, a Sara triste que precisava de doces para não se sentir tão sozinha”. Ela continuou o jogo e conta entretanto que tinha ido ao cinema com uma amiga da escola, enquanto a mãe tinha ficado com o namorado. Pega num papel e começa a escrever de forma muito viva algumas palavras relacionadas com princesas e príncipes.

Nesta sessão, e após um longo período de ausência de actividades lúdicas que figurassem o discurso da temática da oralidade, Sara reintroduziu o jogo da loja que vende bolos, doces, biscoitos e, também, livros. Enquanto observava Sara a organizar a loja, a minha associação foi que ela estava a reagir à ausência de sessões na semana anterior constituindo, por isso, uma figuração do discurso da separação/autonomia. O impacto inicial deste material necessita de ser analisado a partir do vértice da contra-transferência, nomeadamente, em que medida as próprias angústias de separação da terapeuta interferiram na “leitura” que fez do material desta parte da sessão.

Enquanto organizava o jogo da loja/casa interna, Sara comentou que a senhora dos doces se tinha ido embora porque tinha arranjado um novo trabalho, o que foi interpretado no contexto da relação transferencial como uma confirmação de que esta problemática estava elaborada. De facto, o material desta sessão revela uma inter-relação complexa entre diferentes discursos temáticos, tais como a temática da oralidade, mas também o discurso temático da separação/ /autonomia. A este jogo está ainda subjacente uma relação com o discurso edipiano, visto que revela a integração dos aspectos maternos experienciados na relação transferencial (figurados pela mãe que alimenta) com os paternos, racionais, simbolizados pela presença dos livros. É interessante assinalar, que ao observar Sara a organizar e desenvolver o seu jogo, emergiram na terapeuta diferentes linhas de interpretação, o que de alguma forma traduz a complexa inter-relação dos significados no uso da comunicação simbólica. É interessante notar que a temática da oralidade nos períodos iniciais da psicoterapia de Sara geralmente evoluía (após interpretação) para a temática da separação. Pode-se por isso argumentar que o jogo-de-linguagem da oralidade era nesse período usado como símbolo da temática da separação. Desta vez, a clarificação da temática da oralidade revelou a associação com o discurso edipiano, pois Sara introduziu material que evidenciava uma melhor capacidade para lidar com a problemática da exclusão e começado a escrever no papel (à qual está também subjacente uma identificação ao adulto e mais especificamente à figura paterna associada ao discurso do conhecimento), um conteúdo relacionado com príncipes e princesas.

CONCLUSÃO

Em conclusão, a utilização da noção de jogos-de-linguagem como modelo de análise da comunicação simbólica, permite por em evidência alguns aspectos. Por um lado, permite introduzir um eixo temporal na análise da comunicação simbólica. A análise do material clínico sugere modificações importantes, não só no que se refere ao conteúdo simbólico/fantasmático (e.g., o discurso de separação/autonomia separação e a temática da oralidade), mas também na capacidade da criança usar símbolos. As alterações ocorridas no uso do símbolo na psicoterapia de Sara sugerem alguma ligação com a visão de Ricoeur (1965) sobre este tema. Nos símbolos actuam dois vectores opostos – um vector progressivo ou teleológico e um vector regressivo ou arqueológico. A componente regressiva da formação simbólica tende a reproduzir as nossas experiências passadas e está, por isso, fundamentalmente sob a égide da compulsão à repetição. O vector progressivo procura novas significações e novas soluções para os conflitos internos. Embora os elementos progressivos e regressivos da formação simbólica, não existam numa forma pura, mas sim como compromisso entre ambos, a evolução no processo terapêutico envolve uma modificação na formação de símbolos no sentido dum tipo de simbolização mais prospectiva, na qual o sujeito tende a procurar novas formas de significação (e.g., no discurso de abandono e separação/ /autonomia, o uso da neve dentro do frasco como símbolo na sessão antes da interrupção para as férias de Verão pode ser considerado como uma simbolização prospectiva, na qual Sara dá novas configurações e soluções aos seus conflitos internos). Este tipo prospectivo de simbolização parece também envolver a produção de formas complexas de significação, produzindo uma espécie de simbolização plurivocal (símbolos que representam uma complexa rede de significados), que se expressa na prática clínica através da progressiva interrelação entre discursos e do qual o jogo da loja multifuncional constitui um exemplo.

Os exemplos do caso de Sara ilustram também de que forma funciona a modificação nas relações entre os símbolos no espaço hermenêutico criado durante a terapia. A análise do material clínico mostra que a reestruturação do espaço hermenêutico ocorre por uma modificação constante das relações entre diferentes discursos/símbolos entre si, o que leva à questão da sobredeterminação do simbolismo enquanto ordem simbólica, na qual um símbolo ganha sentido por referência a outros símbolos.

REFERÊNCIAS

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Kristeva, J. (1986). Psychoanalysis and the polis. In T. Moi (Ed.), The Kristeva reader [M. Waller (Trans.)]. Oxford: Basil Blackwell Ltd.

Massin, B., & Massin, J. (1983). Histoire de la musique occidentale. Paris: Fayard/Messidor – Temps Actuels.

Monk, R. (1990). Ludwig Wittgenstein: The duty of a genius. London: Jonathan Cape.

Neves, T.S. (2007). Psychoanalytic symbolism: A critical approach. Revista Portuguesa de Psicanálise, 27 (2),19-38.

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Ricoeur, P. (1965). De l’interprétation: Essai sur Freud. Paris: Éditions du Seuil.

Wittgenstein, L. (1953). Philosophical investigations. Oxford: Basil Blackwell.

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Wittgenstein, L. (1977). Culture and value. Edited by G. H. von Wright (P. Winch, Trans., 2nd ed.) Oxford: Blackwell Publishers.

 

(*) Este artigo é adaptado da tese de doutoramento apresentada em 2005 no Departamento de Psicologia da Universidade de Kent, Canterbury – Inglaterra.

(**) Professora Auxiliar do ISPA, membro efectivo doutorado do Centro de Investigação e Intervenção Social, ISCTE-IUL.

 

1 “Aspect-seeing”, remete para um certo vértice de apreensão.

2 A designação utilizada por Wittgenstein é “seeing-as”, aqui traduzida por “ver como”.

 

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