SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 issue198Material landscape, symbolic landscape, and identity in the municipality of Castelo de VideThe broadcast of Portuguese films on public television (1957-1974) author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

Related links

  • Have no similar articlesSimilars in SciELO

Share


Análise Social

Print version ISSN 0003-2573

Anál. Social  no.198 Lisboa  2011

 

O “arrastão” de Carcavelos como onda noticiosa**

 

Gonçalo Pereira Rosa*

* CECC, Universidade Católica Portuguesa, Palma de Cima, 1649-023 Lisboa, Portugal. e-mail: goncalopr@netcabo.pt

 

Resumo

O crime fornece aos meios de comunicação uma matriz de desvio comportamental e gera uma fonte inesgotável de notícias. Em contextos muito particulares, o grau de unanimidade entre meios de comunicação, o consenso entre definidores primários, o volume da cobertura jornalística e o exagero ou distorção inerentes à catalogação de várias ocorrências numa categoria ressonante geram ondas noticiosas num curto intervalo temporal, um fenómeno que carece ainda de enquadramento sociológico. O artigo descreve como o “arrastão” de Carcavelos de 2005 acompanhou o modelo descrito por Peter Vasterman para as ondas noticiosas, sugerindo um elemento adicional: quando a onda noticiosa se forma perante um consenso alargado, é escassa a disponibilidade para incorporar na cobertura jornalística elementos que contradigam o enquadramento predominante.

Palavras-chave: ondas noticiosas; jornalismo; distorção; crime; media.

 

The Carcavelos mugging as a media hype

Abstract

Crime provides the news media with headlines on a silver platter and is an inexhaustible source of reporting to serve up to the public.  To a certain degree, the consistency across media, consensus among the reporters, the volume of news coverage, and the “massaging” of the events into a form that is palatable to the public quickly generates a series of “waves” or hypes of reporting.  This is a phenomenon that has been neither placed into its sociological setting, nor studied with regard to its impact on that setting.  This article examines the way in which the “Carcavelos mugging of 2005” conforms to the media hype model advanced by Peter Vasterman, and goes a step further by suggesting that when the tide of news enjoys widespread consensus, it is rare that the news coverage includes elements that go “against the tide”.

Keywords:  news hypes; journalism; distortion; crime; media.

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

Bibliografia

ACIME (2006), O ‘Pseudo-Arrastão’ de Carcavelos, Lisboa, Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas.

Altheide, D. L. e Michalowski, R. S. (1999), “Fear in the news: a discourse of control”. The Sociological Quarterly, 40 (3), pp. 475-503.

Banks, M. (2005), “Spaces of (in)security: media and fear of crime in a local context”. Crime Media Culture, 1(2), pp. 169-187.         [ Links ]

Bardin, L. (2000 [1977]), Análise de Conteúdo, Lisboa, Edições 70.

Best, J. e Hutchinson, M. M. (1996), “The gang initiation rite as a motif in contemporary media discourse”. Justice Quarterly, 13, pp. 383-404.

Best, J. (1999), Random Violence: How We Talk About New Crimes and New Victims, Berkeley, University of California Press.

Brosius, H. B. e Eps, P. (1995), “Prototyping through key events. News selection in the case of violence against aliens and asylum seekers in Germany”. European Journal of Communication, 10(3), pp. 391-412.

Castro, P. (2006), “Quando o que vemos não é igual ao que percebemos — implicações para as relações entre grupos”. In ACIME, O ‘Pseudo-Arrastão’ de Carcavelos, Lisboa, Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas, pp. 115-124.

Cohen, S. (1972), Folk Devils and Moral Panics, Londres, MacGibbon e Kee.

Correia, J. C. (2006), “Regresso ao arrastão de Lisboa: algumas reflexões sobre epistemologia do jornalismo”. In Telejornalismo: a Nova Praça Pública, Florianópolis, Brasil Insular, pp. 193-219.

Ferin, I. e Santos, C. A. (2006), Media, Imigração e Minorias Étnicas II, Observatório da Imigração 19, Lisboa, Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas.

Fishman, M. (1980), Manufacturing the News, Austin, University of Texas Press.

Fumento, M. (1990), The Myth of Heterosexual AIDS, Nova Iorque, Basic Books.

Gamson, W. e Modigliani, A. (1989), “Media discourse and public opinion on nuclear power: a constructionist approach”. American Journal of Sociology, 95 (1), pp. 1-37.

Gamson, W. (1992), Talking Politics, Cambridge, Cambridge University Press.

Goffman, E. (1993 [1959]), A Apresentação do Eu na Vida de Todos os Dias, Lisboa, Relógio d’Água.

Hall, S., et al. (1993 [1978]), “A produção social das notícias. O ‘mugging’ nos media”. In N. Traquina (org.), Jornalismo: Questões, Teorias e ‘Estórias’, Lisboa, Vega, pp. 224-248.

Heath, L. e Gilbert, K. (1996), “Mass media and fear of crime”. American Behavioral Scientist, 39, pp. 379-386.

Hilgartner, S. e Bosk, C. L. (1988), “The rise and fall of social problems: a public arenas model”. American Journal of Sociology, 94 (1), pp. 53-78.

Howitt, D. (1982), The Mass Media and Social Problems, Oxford, Pergamon Press.

Kielbowicz, R. B. e Scherer, C. (1986), “The role of the press in the dynamics of social movements”. In L. Kriesberg (org.) Research in Social Movements, Conflicts and Change, Greenwich, Jai Press Inc., pp. 71-96.

Kitzinger, J. e Reilly, J. (2002 [1997]), Ascensão e Queda de Notícias de Risco, Coimbra, Minerva Coimbra.

Ibarra, P. R. e Kitsuse, J. L. (1993), “Vernacular constituents of moral discourse”. In  Reconsidering Social Constructionism, Hawthorne, Aldine de Gruyter, pp. 25-58.

Manning, P. (1998), “Media loops”. In Popular Culture, Crime and Justice, Belmont, West/Wadsworth, pp. 25-39.

Manning, P. (2001), News and News Sources — A Critical Introduction, Londres e Thousand Oaks, Sage.

Marques, R. (2005), Timor-Leste: o Agendamento Mediático, Porto, Porto Editora.

McCombs, M. e Shaw, D. (2000 [1972]), “A função do agendamento dos media”. In N. Traquina (org.), O Poder do Jornalismo — Análise e Textos da Teoria do Agendamento, Coimbra, Minerva Coimbra, pp. 47-61.

Noelle-Neuman, E. e Mathes, R. (1987), “The ‘event as event’ and the ‘event as news’: the significance of ‘consonance’ for media effects research”. European Journal of Communication, 2 (4), pp. 391-414.

Ramonet, I. (1999), A Tirania da Comunicação, Lisboa, Campo das Letras.

Sacco, V. F. (1995), “Media constructions of crime”. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, 539 (1), pp. 141-154.

Sacco, V. F. (2000), “News that counts: newspaper images of crime and victimization statistics”. Criminologie, 33 (1), pp. 203-223.

Snow, R. P. (1983), Creating Media Culture, Beverly Hills, Sage.

Swindler, A. (1986), “Culture in action”. American Sociological Review, 51, pp. 273-286.

Thompson, J. B. (1995), The Media and Modernity: A Social Theory of the Media, Stanford, Stanford University Press.

Tuchman, G. (1993 [1972]), “A objectividade como ritual estratégico: uma análise das noções de objectividade dos jornalistas”. In N. Traquina (org.), Jornalismo: Questões, Teorias e ‘Estórias’, Lisboa, Vega, pp. 74-90.

Vasterman, P. L. M. (2005), “Media hype. Self-reinforcing news waves, journalistic standards and the construction of social problems”. European Journal of Communication, 20 (4), pp. 508-530.

Williams, R. H. (1995), “Constructing the public good: social movements and cultural resources”. Social Problems, 42, pp. 124-144.

Wolfsfeld, G. (1997), Media and Political Conflict — News From the Middle East, Cambridge, Cambridge University Press.

 

** O autor agradece o apoio e colaboração do Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (actual ACIDI), cujo incentivo e entusiasmo com este projecto foi contagiante. O acesso à base de dados do ACIME acelerou igualmente a pesquisa e forneceu valiosos elementos para as conclusões do autor. Agradeço, por fim, os relevantes comentários e sugestões do referee anónimo que reviu um primeiro esboço deste texto.

Recebido para avaliação a 29-09-2009. Aceite para publicação a 24-02-2010.

Creative Commons License All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License